São Paulo (AUN - USP) - O encontro “A pesquisa nas quebradas: iniciações, encontros e partilhas” realizado no Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (Lisa) da USP, no dia 28 de setembro, apresentou trabalhos de iniciação científica relacionados ao tema da periferia. O grupo tem em sua origem no documentário “Cinema de Quebrada”, dirigido pela professora Rose Satiko do Departamento de Antropologia da USP, que mostra as dificuldades de alguns jovens da periferia para produzir filmes que retratem sua própria realidade. A pesquisadora é responsável criação e orientação do grupo de estudos fomentado pelo Projeto Ensinar com Pesquisa.
Depois de um ano de trabalho conjunto, pautado principalmente pelos debates gerados após a exibição do filme, que contou com a participação dos próprios integrantes do documentário, o resultado foi uma grande diversidade de novos temas.
Releitura
O trabalho de Priscilla Sbarra se propôs a tratar do assunto de maneira diferenciada: “de “baixo para cima”. O intuito foi realizar uma releitura da classe média, partindo do ponto de vista do contato estabelecido com elementos de uma cultura da periferia”.
Foram entrevistados jovens de classe média de São Paulo para saber como eles se apropriavam de elementos da periferia. A música, os modos de falar e vestir são incorporados como forma de renegar um certo comportamento “alienado”, geralmente associados à classe social de que fazem parte.
Essa troca parece ser unidirecional, dificilmente o movimento se dá de “cima para baixo”, mesmo a pirataria não propiciaria ao jovem da periferia ‘pagar de playboy’. A razão apontada como responsável pelo sucesso do movimento inverso seria que “a apropriação destes elementos da periferia passa por um período de adaptação antes de ser consumida, o que é de fato apreendido no convívio com a favela passa por uma espécie de triagem, e depois é readaptado pela classe média da maneira como melhor lhe veste. Diferente do que acontece na problemática da pirataria, na qual é realizada uma simples cópia do objeto que representa o status nas classes superiores.”
Em uma outra linha de pesquisa, Marina Chen buscou investigar como os movimentos artísticos na periferia vinculam sua produção “como meio efetivo para a realização de mudanças sociais”. Tem estreita relação com o tema, pois ela mesma já havia trabalhado em projetos semelhantes na periferia, o que possibilitou maior interação num ambiente onde não era vista como pessoa “do centro”. A pesquisa culminou com a produção do documentário "PeriferiAção" que foi para ela um meio de “documentar e dialogar com alguns destes grupos de forma a contribuir com a discussão mais geral a despeito da produção cultural que parte da periferia para a própria periferia”.
O documentário poderá ser acessado em breve no site do Lisa (http://www.lisa.usp.br), onde já se encontra o documentário “Cinema de Quebrada” da professora Rose Satiko.