São Paulo (AUN - USP) - Imagine um lugar cheio de brinquedos dispostos em “cantinhos temáticos”: casinha, música, mercadinho, construção, quintal. Neste sonho de toda criança há também um acervo de jogos e brinquedos para levar emprestados – como numa biblioteca, basta fazer um cadastro. Ali na outra sala estão armários cheios de brinquedos antigos – são cerca de 200 -, daqueles que só os pais ou avós conhecem e que não se fazem mais. Além destes, há ainda alguns mais recentes, como brinquedos eletrônicos e bonecas típicas de diversos países. Estes dois espaços são parte do Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos (Labrimp) da Faculdade de Educação (FE) da USP – um é a Brinquedoteca, o outro, o Museu da Educação e do Brinquedo (MEB).
Enquanto as crianças fazem o que lhes é constitucionalmente de direito - brincam -, o Laboratório se dedica à formação, pesquisa e extensão focados na teoria e prática pedagógicas. O objetivo é promover o lúdico e sua importância na educação infantil.
Transformações
Nos anos 80, um grupo de educadores da FE começa a observar que o brincar, aspecto crucial na vida das crianças, sofria transformações importantes numa sociedade cujas mudanças comportamentais se consolidavam desde os anos 60. Mães efetivamente trabalhando fora, grande migração para as metrópoles, transmissão cultural se perdendo, o espaço urbano modificado, a televisão ocupando lugar de honra nas casas. Com isso, a rua saía do repertório infantil, as brincadeiras iam sendo substituídas por brinquedos e políticas públicas voltadas para a infância simplesmente não existiam. Nesse contexto, sob coordenação da professora Tizuko M. Kishimoto, foi fundado o Centro de Estudos de Brinquedos e Materiais Pedagógicos (Cebrimp), mais tarde transformado em laboratório, dedicado a reflexões sobre a importância do lúdico.
“Antes, ninguém precisava ensinar a criança a brincar”, diz Ruth de Martin, educadora responsável pelas atividades no Labrimp desde 1994. "A partir dos anos 80, é clara a posição secundária que o lúdico aparece na educação infantil. Por isso todo o nosso esforço concentra-se em mostrar aos professores e alunos que, com a brincadeira, é possível ter mais prazer no dia-a-dia da escola".
“Parceiros de brincadeiras”
O Labrimp hoje é referência na área e, para tanto, deu passos importantes. Na última década fechou uma parceria com a Universidade do Minho, em Portugal, além de ter pesquisas apoiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além de administrar a Brinquedoteca e o Museu, o Laboratório atende uma grande demanda por estágios, projetos de pesquisa da comunidade USP e orientação a professores da rede pública.
A Brinquedoteca, que segundo a coordenação do Labrimp é a primeira dedicada à pesquisa do mundo, está aberta de segunda a sexta e recebe, em dias alternados, crianças com dificuldades de aprendizado do projeto Esporte Solidário (governo federal), alunos da Escola de Aplicação da FE e da Creche Central da USP, escolas públicas e meninos e meninas da comunidade em geral. Ali, sob a supervisão de Ruth, trabalham os "parceiros de brincadeiras" – são professores, estagiários e bolsistas de graduação (atualmente são sete projetos em curso). A palavra de ordem é brincar aprendendo.
"Sob orientação da professora Tizuko Kishimoto, no Labrimp também desenvolvemos projetos como o Pontão da Cultura, espaço de formação profissional em parceria com o Ministério da Cultura, e o projeto Contextos Integrados em Educação Infantil, voltados para crianças de até seis anos", conta Ruth. No Contextos, cerca de cem profissionais do ensino público fazem formação continuada com certificação semestral. "Temos profissionais que participam desde o primeiro grupo, formado em 2001. Nas apresentações é mostrado aos professores que o lúdico, o brincar, é muito mais simples do que imaginamos. Às vezes, basta uma cantiga de roda ou um recipiente com água para explorar brincando e a criança experimentar o prazer de estar na escola", completa.