ISSN 2359-5191

02/11/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 77 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Encontro debate criação de filmes como término de curso

São Paulo (AUN - USP) - A produção de filmes por alunos em final de curso de cinema foi o foco da discussão em debate realizado no Auditório Paulo Emílio, no prédio central da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Quatro alunos do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da ECA que já produziram curtas como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – todos terminados este ano – trocaram impressões com a platéia sobre o processo de criação, após a exibição de suas obras. De acordo com o professor Cristian Borges, do CTR, o encontro visou colocar pontos importantes sobre a produção de filmes que podem ser aproveitados pelos próximos alunos.

O primeiro trabalho exibido foi “Presidente”, de Luíza Favale, que conta a história de um menino em fase de passagem para a adolescência. “Há muito de mim na história, apesar de que nenhuma situação dali ter especificamente se passado comigo. A sensação do filme é de inadequação, foi uma época em que estava com problemas em casa“.

Ela conta que inscreveu o projeto do filme num “workshop” de cinema no Rio de Janeiro, que, como prêmios, oferecia ajuda na realização das obras. “Na ECA, o curta havia sido selecionado para ser filmado em HD. Mas, com a verba que ganhamos do ‘workshop’, repensamos e fizemos em 35mm”. Luíza lamentou a pressa para finalizar o filme, devido aos prazos estabelecidos dentro dos prêmios.

Crianças em foco
A obra apresentada a seguir foi “A Guerra de Arturo”, de Júlio Taubkin. O filme, única comédia entre os quatro, conta a história do jornalista Arturo, que, ao cometer um erro de digitação acaba iniciando uma guerra entre Brasil e Argentina. Ele explica que, “como acontece também no mercado”, houve muito cuidado até a produção e a finalização foi deixada de lado, tendo que ser terminada no improviso e na correria. “É um erro que eu achei que não iria mais cometer, mas que ainda faço. Se for possível iniciar, desde o TCC, a fazer algo mais controlado, é um bom começo”.

Daniel Grun apresentou o seu “Nuvens”, que parte da “angústia e da necessidade de pensar sobre as crianças de rua. Tentar compreendê-las e tratá-las de forma mais humana”. Ele explica que queria colocar a questão social como espaço e não como protagonista, papel ocupado por uma menina que vende balas no farol e acaba sendo atropelada. “Precisaria de 10, 15 minutos para contextualizar algo que já sabemos. Talvez hoje colocasse algo mais, no entanto, o filme ganha com esse lado onírico”, diz o diretor, em referência a um estilo mais poético assumido pela obra em detrimento da representação da pobreza.

“Fim de Semana Sim”, de Vinicius Toro e Miriam Magami, enfoca a relação entre uma menina de pais separados com seu pai, a namorada dele e o filho dela, portador de Síndrome de Dawn. “Fizemos muita pesquisa sobre como trabalhar com crianças, incluindo as com Síndrome de Dawn. Fomos a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) fazer oficinas por seis meses e assistimos aulas de teatro para crianças. O foco do TCC era isso: trabalho com crianças”.

Toro conta que mesmo com tanta pesquisa, houve problemas. A menina protagonista, Adriadne Lista – cuja atuação foi muito elogiada por todos os presentes –, por exemplo, acabou ficando “emburrada” com o ator que representava seu pai, após uma cena em que ela leva bronca. “Ele estava aquecido, estávamos passando a cena antes, e ela chegou fria, o que a levou a ter essa reação. Nós nos preocupamos tanto com a cena em que ela ‘zoava’ o menino e com a que ela chorava e não percebemos que o mais difícil era levar a bronca. Isso foi interessante para a pesquisa”. Toro explicou ainda que o uso do HD para a filmagem se justificava justamente pelo trabalho com crianças, da necessidade de filmar muito.

Foi apontado, no debate, pelo professor Cristian Borges, o fato de que três dos filmes, assim como boa parte das produções recentes tanto de alunos como de mercado, tratam da questão da criança. Toro disse que acredita haver um distanciamento maior da infância do que do próprio momento em que se vive, o que incentivaria produções deste tipo. Borges ainda emendou que talvez fosse justamente um trabalho interessante para os próximos TCCs tentar lidar com a época em que se vive ao invés do passado.

Taubkin enfatizou que também seu próprio filme, “A Guerra de Arturo”, apesar de não ter crianças, é um filme de passagem. “É uma coisa que fica muito nas nossas cabeças no final da faculdade. Há certa insegurança, precisa-se concluir algo, há certa necessidade de provar para si mesmo a capacidade de fazer um bom filme. No fim, é um trabalho visceral, importante até para se colocar no mercado, mas o TCC acaba virando apenas mais um filme”.

Daniel Grun defendeu ainda que não há a necessidade de se fazer o filme completamente sozinho. “Pode-se ir atrás de quem já fez”, diz ele e conta que uma conversa com Vinicius Toro e Miriam Magami o incentivou a fazer também oficinas com crianças.

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