São Paulo (AUN - USP) - Explicitar a presença do Muro de Berlim no imaginário alemão nos dias de hoje é o que pretendia a “IV Jornada de Literatura Alemã: Novos muros em Berlim?”. Realizada nos dias 14 e 15 de outubro no prédio de Letras, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a jornada tratou da presença do muro principalmente no cinema e na literatura contemporânea alemã, mas passou também por uma análise nos jornais brasileiros.
A análise dos jornais ficou por conta de Karen Esteves, aluna de pós-graduação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, que estudou a imagem da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental na época da divisão) em revistas e jornais brasileiros. Karen observou a época da Alemanha dividida que coincide com o período de ditadura no Brasil, o que trazia uma forte influência nas matérias sobre a RDA. Falou também sobre uma cobertura jornalística que dava duas imagens para a Alemanha Oriental no Brasil. De um lado, quando se tratava de economia, era vista como aliada, pois o Brasil firmou vários acordos na época. Por outro lado, do ponto de vista social a imagem era de um sistema repressor e situação de miséria, muitas matérias noticiavam casos de pessoas que tentavam fugir de lá.
Outros participantes da jornada falaram mais de uma presença simbólica do muro. Paulo Berkelmans, aluno de pós-graduação da FFLCH, tratou da presença do muro no livro Vielleicht ist es sogar schon (que Paulo mesmo traduziu para “Talvez até seja bom”) de Jakob Hein, e no filme Good-bye, Lenin!. Berkelmans falou que, nos dois casos, o muro não se limita a uma barreira física, não é o muro em si que importa, mas sim o símbolo da divisão do mundo no período histórico da Guerra Fria. Para o estudioso, o que chama a atenção no livro é a sobrevivência da presença do muro mesmo em sua ausência, uma “existência histórica que transcende a existência física”. Já no filme a divisão está principalmente explicitada nos diálogos entre os personagens. Os diferentes pontos de vista, marcados por uma divisão cultural imposta, é o que traz a presença do muro.
Helmut Galle, professor do Departamento de Letras da FFLCH, discutiu a literatura contemporânea. Falou sobre a questão do Muro de Berlim na obra de dois autores: Uwe Tellkamp e Clemens Meyer. Os autores não foram escolhidos por acaso. Os dois eram jovens ou adolescentes na época da queda do muro, ambos alunos do sistema escolar da RDA, porém com perfis totalmente diferentes. Enquanto Meyer fez parte de uma juventude sem grandes perspectivas e que passava grande parte do tempo brigando nas ruas, Uwe Tellkamp fez mais o tipo burguês. As obras, apesar dos diferentes perfis dos escritores, se assemelhavam na descrição da decadência da Alemanha dividida. Duas subculturas, uma burguesa outra proletária, apontam a impossibilidade de manter a integridade contra a tendência totalizante do sistema repressor presente na Alemanha Oriental.