ISSN 2359-5191

25/11/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 88 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Chineses enfrentam conseqüências de seu crescimento econômico

São Paulo (AUN - USP) - O aumento da criminalidade, um processo de urbanização descontrolado, o aumento populacional, fluxos migratórios intensos e índices altíssimos de devastação ambiental são algumas das conseqüências que o acelerado crescimento econômico chinês trouxe para os chineses - atualmente beirando os cerca de 1 bilhão e 500 milhões de habitantes.

As metrópoles do país, como Pequim e Xangai, estão entre as mais poluídas do mundo. Segundo Mario Bruno Sproviero, professor de cultura chinesa do Departamento de Letras Orientais, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, “não existe um planejamento para evitar a poluição ou a emissão de gases estufa como CO²”. Para sacrificar o desenvolvimento do país, está fora de cogitação uma política pública de proteção ao meio ambiente. Durante os jogos olímpicos de 2008, houve a tentativa de redução da poluição nas metrópoles, no entanto, foram tomadas somente medidas de curto prazo, como a redução das frotas de veículos circulantes, que foram abandonadas com o fim dos jogos.

Outro problema grave no país é a extrema desigualdade social, agravada pela impossibilidade de mobilidade social na sociedade chinesa. Apenas as famílias que possuem mais recursos, que usufruem da capacidade tecnológica existente no país e são capazes de mandar seus filhos para a faculdade possuem chances de melhorar suas condições de vida. Caso contrário, escapar da situação de miséria é bastante difícil. “A condição de vida precária da maior parte da população chinesa explica a dedicação absurda do chinês a sua profissão, aos estudos; os chineses estão habituados à competição e a uma vida de recursos limitados”, define o professor.

China e Estados Unidos
Um dos traços mais marcantes da China é seu poderio militar, que vem em grande parte de grupos ligados aos Estados Unidos. Existe realmente um plano de liderança global por parte do governo chinês? De acordo com Sproviero, o que existe por enquanto são alianças estratégicas alimentadas pelo sentimento de revanchismo e voracidade de vingança da China com o ocidente e principalmente com o Japão. “A China é paciente e nunca dará um passo maior do que as próprias pernas”, pondera o professor.

Na opinião de Sproviero, o que acontece atualmente é uma reorganização do cenário mundial como conseqüência de um deslocamento de investimentos dos Estados Unidos para a China, parte de uma política internacionalista capaz de revelar o embate maior que acontece em território norte-americano. “O que está acontecendo nos Estados Unidos é uma oposição entre nacionalistas e internacionalistas, os últimos representados por grupos de banqueiros poderosos, como David Rockfeller, e membros de Wall Street, sendo a aposta de salvação desses grupos para a crise norte-americana o internacionalismo”, afirma Sproviero.

Ainda segundo o professor, a situação nos Estados Unidos é bastante crítica. “Quando um povo tem condições precárias de existência, não há revoluções; se ele está bem e cai, podem haver transformações”, argumenta Sproviero. Explodem atualmente nos Estados Unidos grandes movimentos de contestação, greves e motins em decorrência da crise econômica iniciada em fins de 2007.

Estratégia chinesa e imagem de Mao
“Para que uma nação se desenvolva na era do capitalismo financeiro, é preciso controlar politicamente todas as forças do país; essa é a linha de raciocínio dos chineses para o progresso”, afirma Sproviero. Segundo o professor, o governo chinês apostou em uma liberdade econômica controlada politicamente para manter a estrutura de governo e contrapor-se ao revisionismo russo. “Para os chineses, a Rússia cometeu o erro fundamental com o seu revisionismo de ligar-se ao capital internacional sem deter o controle da situação”.

A imagem da revolução e de seu líder Mao vem sendo recuperada na China, como dão conta os grandes musicais chineses, dentre eles os apresentados nos jogos olímpicos de Pequim, em 2008. “A imagem de Mao realmente caiu, mas nunca houve uma execração de sua figura, como aconteceu com Stalín na Rússia; não houve uma campanha de difamação oficial de Mao e sim da Revolução Cultural”, afirma Sproviero. A difamação da Revolução Cultural concentrou-se no que entrou para a história dos chineses como “erro esquerdista”, isto é, completar as etapas para uma revolução comunista sem ter uma passagem pelo capitalismo que pudesse proporcionar condições econômicas para uma revolução marxista.

“Faz parte dessa lógica de necessidade de um governo forte uma harmonia com o passado, de não desvalorização nem de Mao, nem da revolução; pelo contrário, como agora o controle precisa ser maior, surge na China hoje uma revalorização de ambos”, diz o professor.

A maior necessidade de controle é justificada pelo aumento dos grupos de pressão por poder e da oposição ao governo que surgiram como conseqüência do desenvolvimento do país. Sob essa perspectiva, a possibilidade de uma abertura política e de uma maior liberdade civil é praticamente zero. “Ninguém cede uma polegada política, a não ser que seja obrigado”, argumenta Sproviero.

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