São Paulo (AUN - USP) - Festas sem fim, boates que nunca fecham e confundem noite e dia, é o que chamou atenção de Tales Ab´Saber. A relação das festas com a cultura tecno e as drogas sintéticas se tornou seu objeto de estudo em “A música do tempo infinito”. Um dos apontamentos do ensaio é o fato de que, ao contrário de outras festas, para aproveitar uma rave em sua plenitude o uso de drogas sintéticas se tornou algo necessário.
Essa necessidade, segundo Ab’Saber, surge de um tipo de festa que quebra os limites do corpo, a festa se encerra justamente quando o efeito prolongado e sistemático da droga se encerra. Nas boates abertas para sempre são superados pelo “transe festivo geral” nossos conceitos tradicionais de repouso, de trabalho e lazer.
O estudo não se prende a essa análise da relação da cultura tecno com as drogas. Vai além e explicita uma ligação com a tendência totalizante da contemporaneidade, na qual a música eletrônica se insere em seu grau mais elevado. Os que festejam “estariam destinados ao projeto de dissolução na pulsação sem eu da música tecno”.
O ensaio de Tales foi discutido nos Seminários das quartas, realizados no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Para o psicanalista, todo esse esvaziamento ou dissolução inerente à musica tecno tem um caráter político. Já na discussão aberta ao público comentou como as raves surgiram com um caráter de contestação, mas como tudo na sociedade contemporânea foi incorporado e teve seu “discurso” esvaziado.
Além do psicanalista participou também do debate Paulo Arantes, professor aposentado do Departamento de Filosofia, e que hoje coordena os Seminários das quartas. O texto “A música do tempo infinito” que faz parte dos estudos mais recente de Tales Ab´Saber já incitou por diversas vezes o debate na mídia e deve ser publicado em livro reunindo seus ensaios.