São Paulo (AUN - USP) - Um grupo de intelectuais de esquerda aproveitou a feira de livros realizada recentemente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP para propor um debate sobre a crise econômica mundial através do lançamento do livro “Capitalismo em crise – a natureza e a dinâmica da crise mundial”. Segundo Plínio de Arruda Sampaio Junior, organizador do livro, a idéia do lançamento-debate surgiu da necessidade de se pensar a crise econômica mundial de uma maneira mais qualificada, em contraponto à banalização da discussão atual em torno da crise.
Segundo o organizador, o livro foi escrito no calor da crise e propõe uma análise que parte da situação geral atual para a concretude dos fatos em uma perspectiva histórica. O primeiro artigo, do professor de Teoria da História do Departamento de História da FFLCH, Jorge Grespan, versa sobre uma teoria para a crise e sua necessidade de compreensão. Segundo Grespan, seu artigo é uma síntese de sua tese de Doutorado, cujo enfoque é dado ao conceito de crise econômica em Marx e à contradição da constituição do capital enquanto valor que se valoriza e, ao mesmo tempo, em sua relação com a força de trabalho, permanece se desvalorizando.
Plínio, que também é autor de um dos artigos do livro, faz uma análise da crise e sua relação com a América Latina, tomando como base a situação concreta do continente. “Essa é uma crise de grande envergadura, há uma socialização permanente dos prejuízos, o excedente do capital continua procurando se valorizar e existe um retorno da bolha especulativa em um movimento de metástase”, afirma.
Crise econômica e situação revolucionária
Valério Arcary, professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (CEFET-SP), autor de um artigo que relaciona a história do capitalismo com as crises econômicas e as revoluções mundiais, também esteve presente no debate. “Na história do capitalismo, há muito mais crises do que revoluções, partindo disso, tento procurar uma explicação para esse fato”, revela o professor.
Segundo Arcary, em setembro de 2008, quando a crise estourou, houve duas linhas de pensamento no centro de comando financeiro mundial, os Estados Unidos, a partir da quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. Uma delas era favorável à quebra do banco, a outra argumentava a necessidade de salvar o banco a qualquer preço, dada a possibilidade de quebra do sistema financeiro internacional. Evidentemente, a última corrente venceu.
“Naquele momento houve uma semi-estatização do sistema financeiro dos Estados Unidos e da Inglaterra que deslocou um valor equivalente a 50% do PIB [Produto Interno Bruto] mundial, ou seja, um sistema de injetar liquidez no mercado sem paralelos na história”, afirma Arcary. Foi possível evitar uma depressão, mas não uma recessão.
Segundo o professor, apesar de existirem reverberações concretas da crise na sociedade, como a greve geral ocorrida na Grécia no início desse ano, a derrota da social-democracia na Europa e o surgimento de partidos de esquerda na Europa com índices de votos superiores a 10%, ainda assim, todos esses efeitos são pequenos quando comparados à gravidade da crise.
“Esperávamos um pouco mais dos efeitos da crise econômica, isto é, um efeito destruidor e criativo; a contra revolução também faz parte da história e o que eu tento explicar em meu artigo é exatamente isso, a disparidade entre a gravidade da crise e seus resultados sociais e políticos”, afirma o professor.
Todos os autores concordam quanto à expectativa de novas crises econômicas e uma intervenção econômica do Estado reduzindo custos e impondo uma nova disciplina para o trabalhador, limitando direitos e aumentando a pressão sobre a classe trabalhadora. Outros artigos versam sobre as características do capitalismo de nosso tempo, a ideologia neoliberal do “fim da história” e a perspectiva da crise em longo prazo.