ISSN 2359-5191

03/02/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 100 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Geociências
Vazamentos de água e esgoto ameaçam água subterrânea de São Paulo

São Paulo (AUN - USP) - Os vazamentos de água e esgoto são a origem de cerca da metade das águas subterrâneas rasas da cidade de Sâo Paulo, mostram pesquisas do Instituto de Geociências (IGc) da USP. Os estudos também revelaram que as áreas mais próximas da superfície estão contaminadas por nitratos, que vêm da rede de esgoto.

São Paulo depende das águas subterrâneas. Dos 78 mil litros de água que a cidade consome a cada segundo, 10 mil são tirados de poços. Em áreas pouco pavimentadas, a água da chuva penetra na terra, atravessa camadas de solo e contribui para recarregar as reservas subterrâneas, chamadas de aqüíferos. As pessoas podem usar essa água quando perfuram poços. Na capital, o asfalto impede que boa parte do líquido chegue no subsolo. Contudo, as redes de água e esgoto estão debaixo do calçamento e seus vazamentos passam a constituir entre 40% e 60% da água que recarrega o aqüífero raso.

Essa descoberta foi feita pelo grupo de pesquisas Laboratório de Modelos Físicos (LAMO), do IGc. Os cientistas furaram 15 poços de monitoramento de até 18 m de profundidade na capital. Dez deles estavam na Vila Eutália, uma área muito coberta de calçamento na zona leste e cinco na Cidade Universitária, uma área com muitas árvores e pouco calçamento. Eles também analisaram águas de 20 poços entre 100 e 200 metros de profundidade de todas as regiões de São Paulo.

Na Cidade Universitária, 40% da água encontrada debaixo da terra vinha de canos de água ou esgoto. O resto tinha origem na chuva. Na Vila Eutália, a proporção se invertia: cerca de 60% da água vinha dos encanamentos. As proporções foram parecidas nas medições com poços mais fundos. Segundo Ricardo Hirata, chefe do grupo de pesquisas, os dados valem para a bacia hidrográfica do Alto Tietê, que corresponde quase exatamente às terras da região metropolitana de São Paulo.

Para saber a origem das águas, os pesquisadores analisaram as proporções de isótopos de alguns elementos químicos presentes nela - hidrogênio, oxigênio, estrôncio e chumbo. Isótopos são átomos de um mesmo elemento que possuem números diferentes de nêutrons. Como a água da chuva e a procedente de atividade humana passam por diferentes caminhos até chegar ao solo, elas possuem diferentes proporções de isótopos em sua composição. Identificando as proporções de isótopos é possível saber a origem da água.

Vazamentos de esgoto
A contaminação dos aqüíferos acontece porque há vazamentos na rede de esgoto ou nas ligações clandestinas que jogam dejetos nos cursos de água. As fossas e lixões também contribuem para contaminar. “O problema da fuga de esgoto é negligenciado pelas autoridades que tratam dos recursos hídricos”, explica a professora Veridiana Martins, também do LAMO. “A contaminação de aqüíferos pode comprometer seriamente poços que são amplamente utilizados pela população das cidades”.

Os contaminantes são filtrados no solo, mas dependendo da forma do aqüífero ou da substância, as águas subterrâneas podem ser degradadas. “Em São Paulo, o que se observa que a maior parte do aqüífero mais profundo ainda tem boa qualidade”, diz Veridiana. “Mas, a forte ocupação urbana tem provocado problemas em várias áreas da cidade e afetando poços de abastecimento privado”.

A contaminação por nitrato pode causar excesso no sangue de uma proteína chamada metahemoglobina. O quadro dificulta o transporte do oxigênio no sangue, deixa a pele com coloração azulada e pode causar a morte, principalmente em idosos e crianças. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária verifica a água dos poços cadastrados, mas cerca de 70% são ilegais na região metropolitana de São Paulo, segundo levantamento feito pelo grupo de Hirata.

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