São Paulo (AUN - USP) - Geólogos brasileiros criaram uma fossa séptica que polui menos o meio ambiente. A fossa mata de 70% a 80% os micróbios que causam doenças e diminui a contaminação das águas subterrâneas pelas substâncias tóxicas que surgem dos dejetos. Ela usa restos de siderúrgica, areia e cascas de árvores. Foi projetada para substituir as fossas negras, por custar pouco e ser construída por pessoas carentes.
No Brasil, cerca de 43 milhões de pessoas lançam seus dejetos em fossas negras ou cursos de água, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra de domicílios de 2005, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essas fossas, simples buracos no chão, liberam no solo um líquido contendo micróbios que causam doenças e nitrogênio e fósforo, que podem contaminar as águas subterrâneas e os mananciais. Fossas sépticas, como as usadas em casas de campo, têm menos impacto ambiental, mas muitas vezes são caras demais para moradores das periferias de grandes cidades construírem.
O nitrogênio, em algumas formas, pode causar no sangue de quem o ingere a presença de uma proteína chamada meta-hemoglobina. O excesso dela dificulta o transporte do oxigênio, deixa a pele com coloração azulada e pode causar a morte, principalmente em idosos e crianças. Em áreas rurais, esse problema não é tão grave, por que há poucas fossas para um território grande. Mas cerca de 32 milhões de brasileiros usam as fossas rudimentares ou outros meios de escoamento que não as redes de esgoto nas cidades.
A fossa foi inventada por pesquisadores do Laboratório de Modelos Físicos, do Instituto de Geociências (IGc) da USP e da Universidade de Waterloo, no Canadá. Nela, todo o líquido jogado fora é colocado em um tanque e escorre para uma camada de areia misturada com escória de siderúrgica. A escória cria um ambiente ácido e mata a maioria das bactérias da mistura. Depois, o líquido resultante do esgoto passa por mais duas camadas: uma contém areia e a outra, areia misturada com cascas de árvores. O carbono da casca favorece o desenvolvimento de bactérias que degradam o nitrato e transforma-o em gases não tóxicos: nitrogênio e dióxido de nitrogênio. É só depois de passar por essas camadas que o líquido tratado chega às águas subterrâneas.
Os pesquisadores da USP testaram a fossa melhorada em São Paulo e ainda precisam ajustar o tamanho de algumas partes para que ela seja produzida em grande escala. A expectativa é que o projeto final seja muito barato e possa ser construído pelo dono do terreno. "O maior custo é trazer a escória de siderúrgica", explica Ricardo Hirata, pesquisador-chefe, que na experiência trouxe o material do porto de Tubarão, em Vitória (ES). "Além disso, há custos com mão-de-obra e compra dos anéis de concreto". Caso seja usado, o novo modelo permitirá otimizar o adensamento de populações em áreas carentes sem rede de esgotamento sanitário, reduzindo a poluição dos lençóis freáticos e de mananciais comparados com sistemas tradicionais.