São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa desenvolvida desde 2001 pelo Instituto de Química (IQ) da USP identificou novas partículas poluentes emitidas na queima da palha de cana-de-açúcar. Os resultados preliminares do estudo mais recente, conduzido pela professsora Lilian Rothschild, revelam um alto potencial de toxicidade em substâncias resultantes da queima de cana no interior do Estado de São Paulo.
Capazes de modificar o material genético, as partículas emitidas na atmosfera podem provocar problemas respiratórios e câncer nos habitantes da região. "A maior preocupação dos pesquisadores está nas partículas, porque nelas há possibilidade de inalação", disse Lilian. "Dependendo do tamanho, as partículas acabam atravessando todo o trato respiratório e se fixando nos brônquios e nos bronquíolos."A pesquisadora destaca os oxi hidrocarbonetos policíclicos aromáticos como substâncias “altamente mutagênicas e cancerígenas”.
Além do impacto na saúde humana, os compostos descobertos alteram a composição do solo e a distribuição das chuvas, provocam degradação da visibilidade na atmosfera e contribuem para as mudanças climáticas. O processo de queima, feito semestralmente em plantações de todo o país, se agrava em São Paulo, região que possui a maior queima de biomassa depois da Amazônia.
O Estado já possui legislação, em vigor desde 2004, que proíbe a queima de cana e exige que a limpeza do solo entre o período de safra e entre-safra seja feita mecanicamente. Porém, segundo Lilian, a norma é burlada pelos produtores que escolhem o período da noite para queimar cana e despistar a fiscalização. A professora acredita que o estudo pode contribuir para o cumprimento da lei. "Essa questão toxicológica vai fazer com que haja uma preocupação dos órgãos públicos com a manutenção da atmosfera", afirmou.
Lilian ressalta que "muito pouco" sobre a emissão dessa queima é conhecido. A pesquisadora menciona a insuficiência de métodos de análise e ferramentas para medir hoje a presença desses compostos na atmosfera. "Esse é o grande desafio: encontrar métodos e instrumentos para identificar e quantificar os compostos que terão a toxicidade analisada posteriormente por biólogos", conta Lilian que pretende parcerias com outras áreas da ciência como metereologia e medicina para o avanço da pesquisa.
Em fase de identificação dos compostos, a pesquisa prevê avançar nos próximos dois anos na quantificação desses elementos, o que permitiria calcular a emissão por hectare de cada substância descoberta. "[O estudo] calculou fator de emissão de vários compostos que no Brasil não havia sido calculado e certamente vai ser útil para base de dados em inventário de emissões e modelagem computacional", afirmou Lilian. "São dados que, junto com outros, vão permitir uma série de outros conhecimentos e informações."