São Paulo (AUN - USP) - Poluentes resultantes da queima de palha de cana-de-açúcar no interior do Estado de São Paulo são transportados para a capital paulista e podem afetar diretamente seus habitantes. É o que revela pesquisa conduzida pela professora Pérola Vasconcellos do Instituto de Química da USP. “A trajetória de massa de ar mostra material retirado vindo do interior do Estado, então São Paulo recebe essa poluição também. Mais diluída, mas recebe”, afirmou Pérola.
A partir da análise de compostos “traçadores” que identificam emissões específicas, o estudo pôde identificar que os poluentes oriundos da queima de biomassa em Araraquara, Piracicaba e regiões da Mata Atlântica atingem a cidade de São Paulo. “Percebemos a presença do levo glucosano e do reteno, que são marcadores de queima de biomassa”, disse a pesquisadora. “Notamos a chegada do material particulado com a presença desses dois na nossa atmosfera.”
Segundo Pérola, o quadro se agrava na medida em que o interior atinge níveis de poluição mais altos do que os registrados na capital em certos períodos do ano. “Em Piracicaba, na época de queimada, entre maio e novembro, a concentração de material particulado é igual ou superior a de São Paulo”, afirmou. O período de queima no interior coincide com a época seca na capital, quando é registrado aumento nas internações hospitalares causadas por poluição em ambas as regiões.
Materiais como alcanos, HPAs, Nitro-HPAs, aldeídos e acetonas identificados nas amostras também são mutagênicos, ou seja, podem provocar câncer. De acordo com a professora, ainda não existem normas de concentração adequadas para todos os compostos tóxicos. A legislação poderia ser criada a partir de dados obtidos com a pesquisa.
No entanto, o estudo ainda não chegou a identificar a quantidade de poluentes que atingem a capital e seus impactos nos paulistanos. “Em nenhum momento da nossa pesquisa percebemos valores tão altos que poderiam ser prejudiciais”, admitiu a professora. “Mas esse é um primeiro momento. Para um trabalho mais elucidativo, precisaríamos de amostragens mais longas, o que nem sempre é possível fazer.”
A equipe responsável pelo estudo começou agora a coletar amostras a cada quinzena, o que deve aumentar a exatidão dos resultados. “Logo a gente vai ter a concentração de PM 2,5 que possibilita ver qual quantidade afeta diretamente a saúde”, afirmou Pérola. “Daria para fazer um trabalho junto com outros institutos para avaliar o impacto na saúde.”