São Paulo (AUN - USP) -Pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Química (IQ) da USP tem como objetivo utilizar o CO2 comprimido como solvente substituto aos produtos orgânicos utilizados atualmente. Segundo Reinaldo Bazito, professor responsável pela pesquisa, o CO2 é menos agressivo, já que é menos tóxico, não-inflamável, proveniente de fontes renováveis e facilmente removível do produto final. “O produto tem apelo ecológico e toxicológico”, afirmou o pesquisador sobre a substância que pode ser aplicada na substituição dos solventes orgânicos em lavagem a seco.
Fermentações e combustão de combustíveis fósseis ou limpos são as principais fontes do CO2 comprimido. “Você está usando CO2 que seria emitido para atmosfera em aplicações, como solvente”. Bazito alerta, porém, que o uso da substância não representa seqüestro de carbono, pois é feito em pequena quantidade e em aplicações específicas. “O uso poupa milhares de toneladas de CO2, mas não os milhões necessários para fazer o seqüestro”, observou.
Em processos industriais, o CO2 pode funcionar em circuito fechado, o que impede sua liberação para a atmosfera e, conseqüentemente, sua participação no aquecimento global. “Normalmente no processo industrial, se procura manter o CO2 sempre sob alguma pressão. Nunca se libera toda a pressão dele porque o que mais custa nesse processo, além do equipamento, é a energia necessária para comprimir o CO2”, explica o pesquisador. “Esse jogo de manter a pressão sempre razoavelmente elevada é que permite a recuperação de materiais a um custo, em termos de energia, pequeno”, resume.
Outro uso ecológico da substância são os detergentes completamente baseados em açúcares, fonte renovável. “Detergente tradicional tem muito flúor na molécula, o que é prejudicial para o meio ambiente”, diz. O material não é próprio para uso doméstico, apenas para pesquisas e ambientais industriais.
A substância tem uma série de aplicações tecnológicas resultantes de suas propriedades “únicas”. Já existem aplicações comerciais desse tipo de CO2, como extração de cafeína para produção de café descafeinado. O CO2 também já participa da extração de lecitina de soja e do lúpulo, responsável pelo amargo da cerveja. Como é muito seletivo, o elemento mantém o sabor e torna o torna o processo de extração mais rápido e eficiente.
Bazito afirma que o custo de produção é elevado porque a substância é destinada a aplicações específicas. Atualmente, a equipe de pesquisa desenvolve polímeros baseados em glicerina para encapsulamento de drogas, especificamente o captropil, remédio para pressão alta.
O encapsulamento permite solubilizar o medicamento mais lentamente, ou seja, o paciente pode tomar um único comprimido durante o dia e a concentração no sangue permanece constante aumentando a efetividade da droga. O mesmo mecanismo é aplicado a essências e pigmentos. “Essa aplicação é única, pois você consegue partículas finamente dividas, sem resíduo de solvente, só com a droga e o material utilizado”, destaca.