São Paulo (AUN - USP) - A atual baixa da ideologia neoliberal e a adoção de políticas de intervenção do Estado na economia camuflam um movimento de oscilação entre liberalismo e keynesianismo ao longo da história das crises econômicas no Ocidente. É o que diz o professor de Teoria da História do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Jorge Grespan.
De acordo com o professor, o liberalismo retoma práticas keynesianas durante crises econômicas no sentido de uma socialização dos prejuízos da crise, o que se reveste na intervenção do Estado na economia através da injeção de dinheiro público no mercado. “É preciso observar que o dinheiro púbico utilizado não vem apenas dos impostos diretos, mas também dos impostos indiretos, aqueles taxados sobre os produtos, o que não exclui os mais pobres do pagamento das perdas decorrentes das crises”, afirma Grespan.
O professor ressalta ainda o movimento de apropriação das riquezas e, portanto, queda do discurso keynesiano, quando se inicia a recuperação das crises. “Quando passa a haver lucro novamente, o que ocorre são políticas no sentido da apropriação de riquezas, como as privatizações, e a retomada do discurso de que o Estado não funciona”, diz Grespan.
Apesar da baixa do discurso neoliberal e da supremacia de termos econômicos sobre questões sociais, como educação e desigualdade, o professar chama atenção para o alcance dos fatos: “o neoliberalismo está em baixa, o que não quer dizer que não volte; apesar da baixa no discurso, sob o ponto de vista macroeconômico, a meta neoliberal continua na ativa”, destaca.
O professor ilustra seu argumento traçando uma comparação entre a quantia de dinheiro gasta com o programa bolsa família e o montante utilizado para pagar a dívida externa brasileira, qualificando-a como uma “ninharia”.
Reforma da saúde e manifestações
Quando questionado sobre a resistência da população norte-americana ao projeto de reforma da saúde do presidente Barack Obama, nos Estados Unidos, em comparação com a aceitação pública frente aos pacotes de socorro aos bancos e ao mercado financeiro organizados pelo Estado, o professor afirmou se tratar de um problema de persuasão política.
“Enquanto ocorre a aceitação dos planos de ajuda e uma clareza quanto à falência da economia com a quebra do setor bancário e financeiro, quando se trata de programas sociais, existe toda uma persuasão política que evoca o comunismo e a tensão enraizada entre o público e o privado, principalmente nas cidades do interior dos Estados Unidos, a chamada América profunda”, conta Grespan.
O professor afirma enxergar movimentações por mudanças sócio-econômicas no mundo todo, relembra a greve geral ocorrida na Grécia no início de 2009 e cita o caso de uma cidade mexicana em que protestos contra fraudes eleitorais tomaram a região. Grespan ressalta ainda a possibilidade de mudanças provocadas por movimentos ecológicos, o que se daria, segundo o professor, quando esses movimentos perceberem a limitação de suas possibilidades de atuação dentro do capitalismo. “Um exemplo claro encontra-se na política de energias alternativas; se a energia não der lucro, quem banca é sempre o Estado”, diz o professor.