São Paulo (AUN - USP) - Os relatórios de Desenvolvimento Humano do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e do posterior Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecido em 2000 no Brasil, são apontados pela pesquisadora Tatiana Maranhão, doutora pelo Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, como estratégias de gestão dos níveis de pobreza. Para ela, as metas do ODM de acabar com a miséria e a fome, educação básica, redução da mortalidade infantil, entre outras medidas, são formas de tornar a pobreza aceitável e evitar possíveis conflitos sociais.
Na busca de uma nova estratégia de desenvolvimento, a década de 90 trouxe uma convergência política entre o Banco Mundial e as Nações Unidas. A novidade consistia em tornar possível a gestão dos níveis de pobreza como estratégia para o avanço neoliberal. Essas colocações foram feitas por Tatiana nos seminários das quartas, realizados no departamento de sociologia da FFLCH.
Nesse contexto, as medidas que o consenso de Washington implantou: arrocho fiscal do Fundo Monetário Internacional, privatizações das estatais, redução nos gastos públicos, e o afrouxamento das leis econômicas trabalhistas, geraram um alargamento das classes mais pobres. Ou seja, a gestão aumentou o número de pobres pelo mundo porém sem deixar que o nível de pobreza fosse extremo.
Assim, com a pobreza controlável internacionalmente surge um segundo momento, o qual Tatiana chama de “consenso das oportunidades”. O consenso das oportunidades consiste no fato de que as reivindicações políticas tanto da esquerda, quanto da direita tomaram as mesmas diretrizes. Os dois lados só pensam hoje políticas de inclusão que não combatem os problemas sociais pela raíz. São os casos de diversas políticas implantadas em nosso país, como o Bolsa Família e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), exemplos do que a socióloga aponta em sua tese como políticas despolitizadas.