São Paulo (AUN - USP) - O Paço das Artes exibe, até o dia 4 de abril, a exposição “Urbi et Orbi – para a cidade e para o mundo”. A mostra traz 11 obras em vídeo de artistas brasileiros e estrangeiros, todas unidas pelo tema do trânsito, isto é, da mobilidade geográfica e seus impactos no mundo atual.
A ideia da mostra surgiu durante a experiência do curador, o artista plástico e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Hugo Fortes, em Berlim, onde viveu de 2004 a 2006. A noção de trânsito veio a partir do contato com estudantes e artistas do mundo inteiro que viviam na cidade. As obras selecionadas para a exposição potencializam este aspecto por serem, em sua maioria, realizadas fora dos países de origem dos artistas. A única que foge desta característica é “Weiter” (“Continue”), do alemão Ulf Aminde, que retrata um grupo de punks que brincam num terreno abandonado. Neste caso, a questão do trânsito também é forte, mas no conteúdo: “os punks são um grupo que está à margem. Eu os encaro como representação do próprio artista: essa figura meio fora da sociedade, meio perdida pelo mundo”, explica o curador.
Hugo destaca que, hoje, inúmeras pessoas vivem no estrangeiro não por opção, mas por problemas políticos e econômicos. Assim, ao mesmo tempo em que o crescente contato com “o outro” pode ser enriquecedor, há a questão da violência do choque cultural. A partir desta reflexão, o curador aponta duas linhas nos trabalhos da mostra: “alguns vão para o lado crítico, do conflito social; outros se focam na delicadeza do olhar do estrangeiro sobre aquilo que, às vezes, o morador do local não percebe mais”.
O próprio curador expõe uma de suas obras na mostra: “Noturno”, filmado da janela de seu apartamento em Berlim, lida justamente com o lado mais poético das migrações. “Essa obra busca a emoção, a sensação do lugar, do clima, da passagem lenta. Tudo está em fluxo: as pessoas, a noite, os carros passam, tudo vai continuando. Muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo ali”, explica Hugo.
Outra obra fundamental no conjunto da exposição é “Dinâmica da Metrópole”, projeto de um grupo de pesquisa da Universidade das Artes de Berlim. O vídeo é baseado num roteiro elaborado em 1921-22 pelo artista húngaro Moholy-Nagy. As imagens em preto e branco projetadas na parede alternam cenas atuais e antigas, incorporando uma ideia dinâmica de cidade que vem do começo do século XX.
Como contraponto a esta obra, a abertura da exposição foi acompanhada de performance da co-curadora Síssi Fonseca, trazendo um dado mais atual. Para Hugo, este tipo de ação é importante como forma de contato direto com o público: “foi um contraste interessante porque a exposição é só de vídeos, então a Síssi trouxe algo mais corporal, material. A performance dá esse dado mais humano e perturba um pouco o ambiente da exposição. Ela interage e brinca muito com o público, além de interligar os trabalhos, já que ela circulou por todo o espaço”, diz o curador.
A comparação entre estas experiências e a realidade paulistana gera reflexões sobre o papel do artista dentro da cidade. “A impressão que eu tenho é que aqui ainda estamos separados do mundo”, reflete Hugo. “Embora exista a mistura cultural, a maioria dos imigrantes veio em gerações passadas, já está mais integrado à cultura. Na Europa, isso está acontecendo agora. Isso é muito rico. Desperta uma certa curiosidade, a gente não sabe bem como é o próximo, mas pela arte sempre é possível comunicar”.