São Paulo (AUN - USP) - O Projeto Integrado Arquivo/Universidade (PROIN), uma parceria entre Arquivo do Estado de São Paulo e Universidade de São Paulo, está conseguindo recuperar uma memória nacional que foi forçosamente esquecida. Trata-se de material da Imprensa Alternativa censurada durante os períodos autoritários no Brasil, que está sendo organizado, através de pesquisa acadêmica, em um banco de dados e de imagens.
Esse é o primeiro contato de pesquisadores com os arquivos “secretos” do DEOPS. Os trabalhos estão sendo realizados por uma equipe de 26 estudiosos, da iniciação científica à pós-graduação, coordenada pelos professores Maria Luiza Tucci Carneiro (Departamento de História) e Boris Kossoy (Departamento de Jornalismo e Editoração). O levantamento representa um avanço muito grande no resgate da história do jornalismo político no Brasil, uma vez que “descobertas”, antes inimagináveis, estão sendo reveladas. Exemplares de publicações anarquistas, comunistas, integralistas e revolucionárias em geral fazem parte desse banco de dados, no qual inclusive “edições zero” de jornais feitos na prisão – a lápis de cor e papel almaço – estão sendo catalogados.
Para mostrar como a pesquisa tem se encaminhado, no que ela já resultou e a sua magnitude, uma pequena exposição será realizada na ECA no início do próximo ano, com a reprodução em pôsteres dos exemplares mais significativos do arquivo. Além disso, já se programou uma nova série de publicações, intitulada “Labirintos da Memória”, que tratará das pesquisas realizadas em cima do banco de dados sobre a Imprensa Alternativa censurada no país. As edições serão semestrais e temáticas, a primeira tratando dos jornais confiscados pelo Estado. As seguintes terão como tema os folhetos subversivos (ou “sediciosos”), as charges políticas e as minorias étnicas, todas no contexto de censura à liberdade de expressão no Brasil.
Outra oportunidade de o público conferir essa pesquisa e fazer parte de uma maneira mais ativa nas discussões acerca do tema são os seminários, realizados também semestralmente pelo projeto. Inicialmente internos ao grupo de pesquisa, os eventos tiveram de se tornar abertos tamanha a procura que tinham. Neles, pesquisadores especialistas de outras universidades são convidados a dar conferências. Segundo a coordenadora Tucci Carneiro, esse tipo de evento proporciona um diálogo raro com a historiografia, contato com autores que fazem parte da bibliografia na pesquisa na área e, além disso, contam com um depoimento vivo de quem fez parte do contexto histórico estudado, com a seção “testemunho” que faz parte dos seminários. A parir de cada um desses encontros há a publicação de uma revista, chamada “Seminários”, que contém o registro das conferências realizadas no evento juntamente com alguns trabalhos feitos por membros da equipe do projeto.
O objetivo é fazer da pesquisa desenvolvida pelo PROIN um trabalho de fácil acesso, uma fonte na qual muitos pesquisadores possam beber. A idéia da montagem do banco de dados e imagens é a maior prova dessa perspectiva de continuidade de um trabalho que, de tão rico, não pode ter um só projeto final. O que se quer dele é que seja ponto de partida para muitas outras pesquisas.