São Paulo (AUN - USP) - A prevalência da anemia caiu de 10% para 9,2% em gestantes atendidas em 13 Unidades Básicas de Saúde da capital, segundo dados coletados nos anos de 2006 e 2008, em pesquisa realizada pela doutoranda Edna Machado, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Houve redução também em relação ao ano de 1990, quando outro estudo registrou a taxa de 12,4% na mesma região.
A pesquisa, que teve sua fase de coleta de dados encerrada em dezembro de 2009, foi feita a partir da análise de dados de 388 gestantes em cada ano. Como os trabalhos ainda estão em fase de conclusão, os reais motivos da queda do índice ainda não podem ser afirmados com certeza. Uma das possibilidades é a obrigatoriedade da fortificação da farinha de trigo pelo Ministério da Saúde, em 2004.
As gestantes são um dos principais grupos de risco da doença, caracterizada pela diminuição da concentração da proteína responsável pelo transporte de oxigênio no sangue, a hemoglobina. Segundo a pesquisadora Edna Machado, o aumento do volume plasmático e do peso da mulher, além da necessidade de nutrição do feto durante a gravidez, contribui para isso.
No Brasil, estima-se que cerca de 30% das gestantes tenham a doença, considerada um problema de saúde pública no mundo todo.
Panorama da anemia
Vários fatores podem causar a anemia, mas cerca de 90% dos casos são devidos à falta de ferro no organismo. Segundo a professora Célia Colli, orientadora da pesquisa, há muito prejuízo para o paciente: “a pessoa fica desanimada e há problema no desenvolvimento cognitivo”. “(A anemia) pode prejudicar o desenvolvimento mental e psicomotor, além de haver queda no desempenho do indivíduo no trabalho e na resistência às infecções”, acrescenta.
Para Célia Colli, o aumento nos casos de anemia é resultado principalmente do processo de sedentarização do ser humano. “Com a mudança do estilo de vida, o consumo de energia reduziu-se, mas o de nutrientes também”, explica. Entre os jovens, o consumo de comidas rápidas é um dos principais vilões no combate à anemia. “Uma vez eu fiz uma avaliação e 10% das alunas daqui da faculdade estavam anêmicas”, conta a professora.
Vários alimentos são fontes de ferro, mas o disponível na carne é aquele que é mais bem absorvido pelo organismo. A laranja, o limão, ou qualquer outro alimento rico em vitamina C favorece a absorção do micronutriente, enquanto o leite faz o contrário. “Tem que saber compor a dieta refeição por refeição. Não adianta dizer o quanto tomar, mas como, porque muitos fatores prejudicam a absorção”, diz a professora.
Reconhecendo a dificuldade de se fazer cinco refeições diárias com um cardápio equilibrado para se adquirir a quantidade necessária de ferro, Célia Colli diz que “a fortificação (da farinha de trigo) foi uma medida importante para repor o ferro da dieta”.
A pesquisadora Edna Machado ainda destaca a importância do Programa Nacional de Suplementação de Ferro, que disponibiliza medicamentos às gestantes nas UBSs, após a vigésima semana de gravidez, no acompanhamento pré-natal. Ela acrescenta que algumas gestantes, no entanto, acabam não tomando o medicamento por falta de informação: “a gestante com um melhor nível de educação cuida dela e tem um cuidado melhor com a saúde”.