ISSN 2359-5191

30/04/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 09 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Roteirista de “Carandiru” critica o cinema brasileiro

São Paulo (AUN - USP) -“O grande problema do cinema brasileiro é a burrice dos diretores”. Foi o que declarou o roteirista Fernando Bonassi, em recente palestra ministrada aos calouros do curso de audiovisual, na Escola de Comunicações e Artes da USP. Disse ainda que o principal defeito da nova geração de cineastas brasileiros é a despolitização. Por esse motivo, afirmou não acreditar em nenhuma ousadia na produção cinematográfica do Brasil.

Outra causa apontada por Fernando para a incoerência das produções brasileiras foi a enorme diferença entre a realidade do diretor e a de quem ele tenta retratar. De acordo com ele, “a burguesia é que está lidando com o operário”, e é por essa razão que filmes como “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas, e “Antônia”, de Tata Amaral, não conseguem representar com fidelidade a periferia brasileira.

Segundo Bonassi, nos últimos tempos, apenas alguns poucos filmes brasileiros têm se preocupado em retratar os problemas do país. Como exemplo, ele citou “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, e “Carandiru”, de Hector Babenco. Para ele, esse último - apesar de achar que é um filme ruim - “evidenciou o problema das carceragens no Brasil”.

O roteirista contou também que, na sua época, os cineastas eram “inimigos das grandes produções”. Sobre essa preferência por curtas metragens, fez uma analogia com a literatura e usou uma citação de Machado de Assis: “A vantagem do conto sobre o romance é que, quando é ruim, acaba depressa”.

Dicas de um profissional
Para Fernando Bonassi, a vontade de escrever para o cinema surgiu ao assistir “Hiroshima, meu amor”, de Alain Resnais, filme em que pôde perceber uma “expressividade além do papel”. Desde então, acredita que tentar exprimir essa sensação é a função central do bom roteirista.

Além disso, explicou que quem quer trabalhar com roteiro tem que ter uma fértil imaginação, e, mais do que isso, conseguir escrever com clareza tudo aquilo o que imagina, principalmente para a televisão. Para ele, fazer um bom roteiro é, também, fugir do lugar comum, “desdiversar” da trama. Como exemplo, apontou o trabalho do cineasta e roteirista norte-americano Quentin Tarantino. Outro ponto importante partiu de uma nova crítica de Bonassi: “os diretores não têm cultura visual”. Sendo assim, recomendou que o roteiro esteja sempre “muito perto da produção”, para facilitar o processo de filmagem.

Bonassi, formado em Cinema pela ECA em 1984, já trabalhou em diferentes gêneros na televisão, no cinema e no teatro. Roteirizou desde programas infantis como “Castelo Rá-Tim-Bum” e “O mundo da Lua”, ambos para a TV Cultura, até programas policiais, como o “Força Tarefa”, da TV Globo, roteiro que divide atualmente com Marcelo Aquino. No cinema, foi co-roteirista de filmes como “Cabra-Cega” (2004), “Cazuza - o tempo não para” (2004) e “Carandiru” (2003).

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