São Paulo (AUN - USP) - A má atuação dos professores é a maior dificuldade enfrentada pelos alunos que freqüentam o Ensino Médio no período noturno. Dentre todos os problemas pelos quais passam os jovens que estudam à noite, o desinteresse e a pouca qualificação dos professores foi o mais apontado pelos próprios alunos, citado por 24% dos freqüentadores de duas escolas de São Paulo.
A pesquisa, realizada por Marlene Marques Machado para sua tese de doutorado em educação na USP, incluiu três escolas da rede pública estadual paulista, cada uma em diferente localidade e estudou os alunos e problemas do ensino no período noturno. Apenas os alunos da escola rural estudada não criticaram o desempenho de seus professores, enquanto no centro e na periferia da cidade de São Paulo os estudantes responderam em questionários que os professores não se esforçam para explicar a matéria, mostram-se insatisfeitos e sem vontade de ensinar e não tentam ou não conseguem responder às questões levantadas pelos alunos.
A segunda maior dificuldade que afeta os estudantes de turmas noturnas é a indisciplina dos colegas de classe (citada por 22% dos alunos). A pesquisa mostra que o barulho dos jovens desinteressados atrapalha aqueles que se esforçam para aprender. E o prejuízo é ainda maior do que os alunos pensam, já que o mau comportamento em classe dos alunos foi apontado pelos professores como justificativa para seu desinteresse. Além disso, os professores que responderam ao questionário da pesquisa disseram facilitar o conteúdo das aulas porque notam os alunos cansados e apáticos.
Marlene Machado, no entanto, destaca que o problema real é que o curso noturno, apesar da diferenciação de que necessita, tem sido realizado da mesma forma que o ensino no período diurno, repetindo-se o conteúdo e a metodologia. Segundo Marlene, o aluno que estuda à noite não deve ser considerado menos capaz de aprender do que aquele que freqüenta a escola durante o dia, mas ele tem uma situação especial que deve ser levada em conta pelos educadores que atuam nesse período.
Para a pesquisadora, o ensino médio noturno deve dar maior atenção a oferecer condições ao aluno para melhor enfrentar o mundo do trabalho e seu cotidiano, desenvolver capacidade de entendimento do mundo e aprender a se relacionar com as pessoas e trabalhar em grupo. Ajustar o ensino à realidade dos alunos trabalhadores, mais maduros e responsáveis, é a principal caminho que Marlene Machado indica para diminuir os problemas desse período escolar, que enfrenta grande porcentagem de repetências e desistências.