São Paulo (AUN - USP) - Atualmente, a cada quilo de medicamento produzido pela indústria farmacêutica correspondem cerca de cem de rejeitos, muitos deles altamente poluentes. Diante desse quadro e relevando o conceito de Green Chemestry, o Instituto de Química da USP pesquisa há quase dois anos o uso de enzimas para efetuar transformações químicas. Através dessa metodologia chamada biocatálise em síntese orgânica, reações ocorrem em meio aquoso, sem o uso de solventes não biodegradáveis e de reagentes químicos que contenham metais pesados ou outros elementos nocivos ao meio ambiente. Assim, diminuem-se os riscos de poluição ambiental.
A aplicação do estudo dá-se nas transformações químicas em substâncias não naturais precursoras de fármacos, perfumes, etc. Aplicando reações mediadas por enzimas estudadas pelo laboratório, os pesquisadores do IQ já sintetizaram fragrâncias, empregadas na indústria de perfumaria e de alimento, e feromônios de insetos, utilizados como inseticidas não poluentes. Uma das descobertas recentes foi a jasmolactona sintetizada por meio de biocatálise.
Todos os seres-vivos produzem enzimas, que funcionam neles como aceleradores de reações químicas. No entanto, os pesquisadores escolheram utilizar os microorganismos – fungos, bactérias e leveduras – por esses se reproduzirem muito mais rapidamente do que seres mais complexos: em poucas horas, uma célula pode reproduzir-se em milhões. Dessa forma, é possível uma alta produção de enzimas em pouco tempo.
A enzima funciona como uma chave que, sem se desnaturar, acelera reações químicas específicas numa velocidade entre cem a três milhões de moléculas por segundo. Sua especificidade impede que em reações por ela intermediadas haja a produção de compostos isômeros espectrais – o que ocorreria em outros processos comuns na indústria farmacêutica. Por exemplo, na produção laboratorial do mentol, são formados dois isômeros, numa proporção de um para um – sendo que um tem o cheiro de menta e o outro, não. Através de um processo biocatalítico, haveria um só produto final.
A exploração da biocatálise no Brasil tem um altíssimo potencial. “O Brasil possui uma biodiversidade enorme, contando com inúmeros microorganismos, a maioria ainda não identificada”, afirma o professor João Valdir Comasseto, chefe do Laboratório de Química Fina da USP. No entanto, seu estudo em âmbito nacional é recente e ainda não tem grande incentivo. “Em países tecnicamente avançados, a biocatálise é uma das principais ferramentas usadas pela indústria farmacêutica; milhões de dólares são investidos em pesquisa dessa área, sendo que seu retorno é da ordem de cem bilhões de dólares”, contrasta o professor.
Os interessados na pesquisa poderão assistir ao seminário sobre o assunto. Ele será administrado pelo professor Comasseto, no dia nove de abril, às 17 horas, no anfiteatro cinza do bloco seis do Instituto de Química da USP (Av. Prof. Lineu Prestes, 748, Cidade Universitária). O telefone do Instituto de Química é (0xx11) 3091 3839.