ISSN 2359-5191

21/03/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 01 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Antropólogo analisa papel civilizador do fogo

São Paulo (AUN - USP) - A domesticação do fogo pelo homem fez eclodir um contínuo processo civilizador cujas conseqüências se fazem sentir até hoje, de acordo com o antropólogo Johan Goudsblom, professor da Universidade de Amsterdã, Holanda. Em conferência ministrada em inglês na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFLCH) da USP, Goudsblom problematizou a expansão da antroposfera – a porção humana da biosfera, sistema que reúne as formas de vida e seus espaços, como a atmosfera e os oceanos.

Para Goudsblom, que define genericamente a vida como “combinação de energia e matéria ordenada por códigos de informação”, o processo de conquista do ambiente global pelo homem se resume a dois modos de crescimento, que não são excludentes: extensivo e intensivo. O primeiro seria obtido pela expansão demográfica e geográfica; o segundo, pela diferenciação do ser humano em relação aos demais seres vivos.

Tal diferenciação ocorreu primariamente através do desenvolvimento da linguagem e do controle do fogo. Trata-se do único elemento não-vital e potencialmente perigoso dentre os quatro primordiais (água, terra, fogo, ar). Sua domesticação levou a três grandes transformações no modo de vida humano: novos padrões de comportamento; diferentes relações de poder entre os homens e para com a natureza; e uma nova mentalidade adquirida, ou habitus, incluindo um senso de segurança até então inédito.

Agregadas, essas três mudanças explicam porque a descoberta, ainda que tenha sido acidental, foi irreversível: o ser humano se tornou dependente do fogo, que levou ao que convencionalmente se chama de civilização – uma somatória de processos, incluindo o que Goudsblom chama de “agrarianização”, um conceito paralelo ao de industrialização, porém muito anterior.

Goudsblom, especialista na obra do sociólogo Norbert Elias (1897-1990), delimitou três níveis para o processo civilizador, termo consagrado por Elias. O primeiro, o da compreensão individual; o segundo, da evolução dos grupos e das sociedades; e o último, abrangendo toda a humanidade. Os três níveis do processo se entrelaçam, e para estudá-los Goudsblom aconselhou o público a evitar egocentrismos e etnocentrismos: “Quando você sentir que está no centro, você está equivocado.”

O antropólogo sublinhou a importância do fogo para a civilização ao ressaltar também seu papel psicanalítico. Lembrando o filósofo francês Gaston Bachelard (1884-1962), Goudsblom afirmou que o fogo, com seu poder destrutivo, fascina o ser humano e o tenta a procurar soluções definitivas para os problemas fundamentais da vida – inclusive através da destruição da vida, pela guerra. É também sinal de introspecção, revelação e risco, sendo constantemente associado a pecado e purificação pelas principais religiões organizadas.

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