ISSN 2359-5191

21/03/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 01 - Meio Ambiente - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Consumo de cana transgênica não revela alteração em ratos

São Paulo (AUN - USP) - Um estudo que avalia a segurança do consumo de uma espécie de cana de açúcar geneticamente modificada está sendo desenvolvido pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF). Ainda em fase preliminar, testes para investigar se a alteração compromete a saúde dos consumidores do vegetal vêm sendo realizados em ratos e não acusaram até agora nenhuma variação no desenvolvimento desses animais.

A modificação consiste na transferência de um gene de proteína da soja para a cana. Constatou-se que a variedade transgênica é mais resistente a infestações da larva conhecida como broca-da-cana (Diatraea saccharalis) do que a planta convencional. Isso porque o gene retirado da soja inibe a digestão de proteínas no interior do estômago dessas larvas. Assim, elas levam mais tempo para se desenvolverem. “Aumentamos a resistência da cana ao ataque de insetos usando uma barreira natural”, explica o responsável pela pesquisa, professor Flávio Finardi Filho, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental.

Como ainda não há um volume suficiente de exemplares geneticamente alterados, os ratos têm sido alimentados com uma mistura contendo, na proporção adequada, caldo de cana não modificada e proteína da soja do gene em questão. As proteínas correspondem a menos de 1% do total de componentes químicos da cana, e a quantidade de proteína de soja adicionada é de apenas 0,05% desse total já existente no vegetal. Portanto, a mistura apresenta uma porcentagem muito pequena da substância retirada da soja.

O passo seguinte da pesquisa é testar nos ratos uma dieta baseada no caldo da cana de açúcar realmente modificada. Segundo o professor, somente o caldo é aproveitado para o estudo porque é o único produto da planta que possui proteínas, uma vez que durante a sua fabricação não ocorre a destruição dessas substâncias: basta que o colmo passe por um processo de esmagamento para que o caldo esteja pronto.

No entanto, ainda que os testes finais indiquem que o consumo dessa cana não acarreta nenhuma modificação no desenvolvimento dos ratos, não se pode afirmar que o mesmo se aplica à saúde humana. “Cada caso é único”, afirma Finardi, esclarecendo a necessidade de uma análise mais profunda de todo o processo de transformação da cana e de desenvolvimento dos ratos. Cogitar a ampliação de um projeto na direção de outros seres vivos só será possível se confirmada a segurança do consumo do organismo modificado.

Controle

De acordo com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, o Brasil é o maior produtor de açúcar de cana do mundo, assim como o maior exportador do produto, empregando cerca de um milhão de pessoas na atividade canavieira. Contudo, a ocorrência constante de pragas, como a broca-da-cana, tem contribuído de forma significativa para a redução da produção.

Uma forma de contornar o problema é justamente o uso de técnicas de melhoramento genético nas lavouras. A partir da introdução ou eliminação de genes nos cromossomos das plantas, espécies mais resistentes e mais produtivas são selecionadas. Desta maneira, torna-se desnecessário a utilização de substâncias tóxicas, como inseticidas e herbicidas, que deixam resíduos nos alimentos e no meio-ambiente. Entretanto, grande parte dos consumidores teme que a ingestão de vegetais transgênicos ou de carne de animais alimentados com ração feita de grãos modificados possa trazer riscos à saúde. Para garantir a segurança desses alimentos tanto para os seres humanos quanto para o ambiente, foi criada no Brasil a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). A instituição tem o papel de regulamentar o uso e a liberação de organismos geneticamente modificados (OGMs) a partir de avaliações sobre a segurança, a toxicidade e a alerginicidade desses produtos, e não dos métodos utilizados para produzi-los.

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