ISSN 2359-5191

04/06/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 24 - Saúde - Instituto de Química
Estudo da percepção de cheiros abre caminho para reverter perda dessa capacidade

São Paulo (AUN - USP) - A percepção de cheiros faz parte da vida humana e está relacionada com outros sentidos, como o paladar, e com reações comportamentais. A falta total ou parcial dessa capacidade, doença chamada de anosmia, influencia na qualidade de vida do ser humano. A professora Bettina Malnic, do Instituto de Química da USP, coordena um estudo sobre o sistema olfatório dos mamíferos. A intenção é entender como uma molécula que está no meio ambiente é detectada pelos neurônios olfatórios presentes no nariz e qual é o caminho da informação enviada ao cérebro para gerar a percepção final do cheiro.

“É um modelo para gente entender como o sistema nervoso funciona. Então, a questão é como a gente consegue discriminar, diferenciar e perceber os diferentes cheiros e é o nosso sistema nervoso que faz isso”, explica a professora. Estudos como esse podem levar ao melhor entendimento da anosmia e um possível modo de revertê-la.

O nariz humano possui um tecido que reveste a cavidade nasal, chamado de epitélio nasal. Nele existem cerca de 350 neurônios olfatórios funcionais, responsáveis pela captação de cada cheiro. Em cada neurônio existe um tipo de receptor diferente, que capta apenas um odorante e é ativado. Os odorantes são pequenas moléculas voláteis de estrutura química variada. Eles flutuam pelo ar, entram no nariz e em contato com os neurônios olfatórios, que estão em contato direto com o meio ambiente.

“Uma vez que os neurônios reconhecem os odorantes, eles são ativados, são eletricamente estimulados e mandam essa informação através do axônio para um primeiro ponto do cérebro, que é o bulbo olfatório. Daí, essa informação é mandada para outras regiões, como o sistema límbico ou regiões corticais mais superiores para formar nossas percepções de cheiros”, explica Bettina.

Diferentemente de outros tipos de neurônios que temos no corpo, como os do cérebro, os neurônios olfatórios são os únicos que se regeneram. Os maduros vivem de 60 a 90 dias e precisam ser repostos. Na camada basal do epitélio nasal, existem células progenitoras de novos neurônios, chamadas de células-tronco olfatórias. “Esses neurônios estão expostos constantemente a toxinas e são mortos por isso. Se não existisse esse sistema de regeneração, a gente não teria mais nenhum e perderia definitivamente a capacidade de sentir cheiros”, diz a pesquisadora.

Um dos projetos do laboratório de estudos do sistema olfatório de mamíferos da professora Bettina Malnic é entender como ocorre essa regeneração e em que condições ela é melhor. Do ponto de vista prático, o estudo é interessante para as pessoas que têm anosmia. “Existe muita gente que tem anosmias geradas depois de uma gripe, uma rinite, uma sinusite ou uma virose e nunca mais recupera o olfato como era antes”, explica Bettina.

A qualidade de vida é diminuída pelo distúrbio. Como cheiro está também relacionado ao paladar – uma vez que se envolvem os estímulos dos sabores na língua e dos aromas no nariz –, comer não dá o mesmo prazer e, muitas vezes, isso pode levar a depressão.

Cada neurônio expressa um gene diferente e a regulação da expressão desses genes é de interesse do estudo. A sequência genômica já está mapeada e permite identificar onde estão os genes que codificam os receptores olfatórios e quais são funcionais. “Alguns primeiros estudos têm mostrado que alguns receptores podem estar associados a algumas anosmias específicas. O estudo do mecanismo de regulação desses genes, como você desliga alguns e só deixa outros ativos, é um projeto que a gente tem no laboratório”, diz Bettina. O estudo dá margem para entender o distúrbio da anosmia e, possivelmente, revertê-lo.

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