São Paulo (AUN - USP) - O fotógrafo “é quase um atleta das artes visuais”. É assim que Cristiano Mascaro, fotógrafo paulistano, definiu a sua profissão, em uma recente palestra aos estudantes de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes. Formado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Mascaro contou um pouco de sua trajetória, da sua relação com a temática urbana e do objetivo do fotojornalismo. “Quando você está com uma câmera na mão, sente que está numa missão”.
O fotógrafo disse que descobriu sua paixão pela fotografia na faculdade, ao conhecer o trabalho de Henri Cartier-Bresson. Suas primeiras fotografias foram tiradas na Bolívia e no Peru, os mesmos países onde acabou, posteriormente, cobrindo golpes de Estado. Nessa época, decidiu ser repórter fotográfico. Sua experiência profissional e o seu contato com o cenário urbano se deu, primeiramente, na revista Veja, veículo em que trabalhou de 1968 a 1972.
Segundo ele, nesse período, adquiriu muita prática em diferentes situações. Contou que já fotografou, em um único dia, o diretor de um banco, um desfile da Elke Maravilha e um jogo de futebol. Apesar de ter afirmado que gosta de fazer reportagens até hoje, percebeu naquela época, que não poderia seguir carreira como fotojornalista, pois “vivia sob a ditadura da pauta”.
Declarou que, depois dessa fase, decidiu trocar de câmera – de uma 35mm, mais compacta e portátil, para uma Hasselblad, maior e mais potente. Assim, deixou de registrar os flagrantes da cidade e passou a fotografá-la de uma forma mais contemplativa. Para isso, enfatizou a necessidade de caminhar pela cidade. “A foto urbana é aquela que você consegue quando anda pela cidade”, disse.
Para Mascaro, o ato de fotografar se assemelha a um ritual. Por esse motivo, o fotógrafo declarou que, ao ser chamado para algum trabalho, gosta de chegar antes de todo mundo para conhecer o local. O que faz, atualmente, é viajar para diferentes lugares, fotografar e depois propor a pauta para alguma publicação. Anota tudo sobre o local e, então, faz o texto que, de acordo com ele, acaba obtendo um caráter descritivo muito forte.
Diferentemente de alguns profissionais mais antigos, Mascaro afirmou que já se adaptou aos equipamentos digitais. Entretanto, reconheceu que esses avanços na tecnologia vêm mudando o comportamento dos fotógrafos. Para ele, as possibilidades de edição e montagem de imagens prejudicam muito o desenvolvimento do trabalho autoral. “Hoje, a fotografia é uma colagem”. Além disso, disse que com essa nova dinâmica, há de se criar uma nova ética, no contrário, a fotografia pode perder toda a sua credibilidade.
Preto e branco
Além do trabalho de Cartier-Bresson, Mascaro declarou que a preferência pelas fotos em preto e branco teve, também, influência do cinema. Movimentos como o Cinema Novo, no Brasil, e a Nouvelle Vague, na França, tiveram a sua parcela de contribuição para os conceitos estéticos e para a temática do trabalho do fotógrafo. Para ele, isso se deve ao fato de os filmes dessa época possuírem a cidade como pano de fundo de seus enredos e de valorizarem a simplicidade nas produções. Obras como “Lola”, de Jacques Demy, e “Acossado”, de Jean-Luc Godard, são, para ele, bons exemplos desses filmes, pois representam “o espírito acima de qualquer recurso tecnológico”.
Para Mascaro, as metáforas sempre serviram de base para os seus trabalhos visuais. “A literatura sempre me abasteceu muito como fotógrafo”. É por isso que uma de suas recomendações para quem deseja seguir a profissão de fotojornalista é ler muito, estudar e ter uma sóbria formação. Lembrou ainda que o bom profissional também tem que ter um pouco de sorte, mas que, acima de tudo, deve “ficar apaixonado pelo que faz”.