São Paulo (AUN - USP) - Imaginar uma brincadeira em que a menina sai para trabalhar e o menino cuida das tarefas domésticas não é mais incomum. O Labrimp – Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos – abriga situações parecidas com essa todos os dias. Pertencendo a Faculdade de Educação da USP, o Labrimp possui atualmente cinco bolsistas que estudam as questões mais gritantes no brincar. Uma das pesquisas atuais do laboratório está calcada nas mudanças dos aspectos de gênero e como essa transformação tem modificado o modo das crianças brincarem.
Seus educadores e bolsistas estão sempre preocupados em entender o brincar da criança, adaptando-o às suas necessidades e suas vontades. Viviane Gobetti, estudante do nono semestre de Pedagogia e bolsista do Labrimp, iniciou nesse ano sua segunda pesquisa relacionada ao assunto. A primeira foi intitulada “As relações de gênero nas brincadeiras de faz de conta” e tratava dessa discussão ligada aos papéis que as crianças inventam nesse tipo de brincadeira. O viés da pesquisa centrava-se numa perspectiva pós-estruturalista, enxergando a questão de gênero como algo naturalizado pela sociedade, ou seja, como uma construção social e cultural pautada nas diferenças biológicas.
Sua pesquisa restringiu-se às crianças entre 8 e 11 anos, apesar de acompanhar todas as idades. Percebendo que essa discussão é bem mais complexa do que parece, Viviane observou uma verdadeira resignificação de papéis. Dentre alguns exemplos, está o menino que vive um pai de família, que trabalha e cuida dos filhos, e a menina que brinca de motorista de ônibus por já ter andando num ônibus dirigido por uma mulher.
A pesquisa iniciada mais recentemente chama-se “Brincadeiras de meninos, brincadeiras de meninas. Diferenças?” e pretende focar mais em dados e nos próprios brinquedos utilizados pelas crianças.
Importância da brincadeira
Ruth de Martin, educadora do Labrimp, diz que muitos pais comentam que a sua infância foi melhor que a atual. Na verdade, o brincar vem da cultura de um tempo e é adaptado para aquela determinada época. “A criança nunca deixa de brincar”, diz Ruth. E isso é o que importa para o desenvolvimento saudável da infância. Hoje a criança brinca em espaços menores, mas tem mais acesso à informação. Logo, os brinquedos e as brincadeiras dessas crianças vão ter um modo de ocorrer diferente de outro tempo. Viviane também pôde notar as reações e as falas dos pais e educadores que frequentam a brinquedoteca, além da participação da mídia na realidade infantil. Essa também é uma grande influência nas ações da criança, que incorpora certas premissas e passa a aplicá-las nas suas brincadeiras.
O modo como a criança enxerga seu mundo e sua realidade resulta nas particularidades do seu brincar. Isso inclui a conversa que elas escutaram, a propaganda que elas viram na televisão ou a situação que elas observaram na rua, por exemplo. Viviane diz que é fundamental estabelecer um vínculo com as crianças e entrar no mundo delas. Isso fornece aos educadores e bolsistas um novo olhar sobre o brincar, além de uma maior abertura com as crianças. Elas passam a ficar mais à vontade e a confiar mais nessas pessoas.
O laboratório preza pela importância do brincar, sabendo que a criança que brinca é mais feliz e evolui na sua compreensão de mundo. O brincar ajuda na socialização, na integração e na parceria dessas crianças. É por isso que o Labrimp dá preferência à diversidade em detrimento à quantidade, tornando o espaço mais atraente e mais interessante. “Brincar de uma forma ou de outra está sendo mais valorizado”, diz Ruth.