ISSN 2359-5191

27/03/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 02 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Grávidas com taxas insuficientes de vitamina B12 geram filhos com a mesma deficiência

São Paulo (AUN - USP) - Um estudo realizado com parturientes de Sorocaba mostrou que mães com baixos níveis de vitamina B12 (cobalamina) no organismo dão à luz a bebês com as mesmas carências nutricionais. A deficiência dessa substância está relacionada a diversos fatores, como dieta inadequada, alterações genéticas ou problemas na sua absorção ou transporte até as células.

A B12 exerce um papel fundamental na produção de hemácias, na síntese de DNA e no ciclo metabólico de outra vitamina importante para o crescimento, o ácido fólico (folato). Quando a mulher está grávida, a duplicação celular é mais intensa para que possa haver a formação de novos tecidos, como a placenta. Além disto, boa parte de seus nutrientes é passada para o feto. Portanto, a necessidade da substância em gestantes é bem maior. Normalmente, o ser humano precisa de uma quantidade muito pequena dela, uma vez que o nosso organismo pode armazenar suprimentos de cobalamina para muitos anos. Contudo, em países como o Brasil, onde grande parte da população não tem acesso a alimentos de origem animal (fontes de B12), a insuficiência do nutriente é bastante comum e preocupa.

Alterações nos genes de enzimas e proteínas relacionadas ao metabolismo da B12 e do ácido fólico podem levar a uma menor disponibilidade dessas vitaminas para as células. Associadas a dietas inadequadas, tais mutações podem acarretar sérios problemas para o indivíduo, como alterações neurológicas, má formação do feto (desde defeitos do tubo neural até anencefalia) e, em estados mais avançados, anemias profundas. “Há uma interação entre defeito genético e nutricional”, explica a professora responsável pela pesquisa, Elvira Maria Guerra-Shinohara, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Segundo ela, não se costumam evidenciar alterações genéticas em pessoas submetidas a uma dieta contendo os nutrientes essenciais. Isto ocorre porque os valores das duas vitaminas no sangue desses indivíduos são os adequados.

Contando com apoio financeiro da Fapesp, a pesquisa foi realizada a partir de amostras de sangue colhidas tanto de 119 mulheres em trabalho de parto quanto de seus recém-nascidos (neste caso, o sangue foi retirado de veias da face fetal da placenta, que equivale ao dos próprios bebês). Quando comparadas, observou-se que havia uma correspondência significativa entre os níveis de vitamina B12 das mães e dos filhos. O estudo também apontou um dado preocupante: 14,3% das gestantes apresentaram carências severas múltiplas (deficiência concomitante de B12, ácido fólico e ferro) e 36,2%, carências de dois desses nutrientes.

Estes resultados mostram que seria possível melhorar a qualidade de vida de mães e recém-nascidos brasileiros com mudanças simples no Programa de Pré-natal, como a introdução do uso de polivitamínicos que contenham vitamina B12 e ácido fólico. Hoje, a única suplementação obrigatória no programa é a com ferro (sulfato ferroso), indicada pelos médicos somente a partir da vigésima semana de gestação.

Produtos Enriquecidos
Todos os fabricantes de farinhas de trigo e milho serão obrigados a enriquecer os produtos com ácido fólico e ferro até junho de 2004. A medida, determinada pela Anvisa e legitimada por meio da Resolução Federal número 344, é válida tanto para as indústrias nacionais quanto para as estrangeiras.

A deliberação prevê que para cada 100g de farinha sejam adicionados 150 microgramas (mcg) de ácido fólico. O aumento do consumo da vitamina visa principalmente às mulheres em idade fértil, já que o folato previne defeitos nos fetos. O mais preocupante deles é a má formação do tubo neural (estrutura de onde se originam o cérebro e a medula espinhal), que pode resultar em paralisias dos membros inferiores, retardo mental, hidrocefalia e morte.

Já a obrigatoriedade do acréscimo de ferro, na proporção de 4,2 miligramas (mg) para cada 100g de farinha, tem o intuito de diminuir a incidência da anemia ferropriva na população. De acordo com o Ministério da Saúde, aproximadamente 45% das crianças brasileiras apresentam algum grau de anemia. A doença torna o indivíduo mais vulnerável a infecções, além de causar apatia e dificultar o desenvolvimento intelectual da criança.

Os rótulos das farinhas deverão indicar a adição das substâncias por meio de expressões como “enriquecido”, “fortificado” ou “rico em ácido fólico e ferro”. Fabricantes que não obedecerem a todos os requisitos previstos pela Resolução estarão sujeitos a notificações ou multas que variam de R$2 mil a R$1,5 milhão.

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