ISSN 2359-5191

25/06/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 39 - Saúde - Instituto de Química
Estudo sobre grau de malignidade do câncer abre caminhos para tratamento personalizado

São Paulo (AUN - USP) - Os tratamentos para o câncer são bastante agressivos e muitos pacientes sofrem mais com eles do que com a própria doença. A dificuldade clínica de identificar o grau de agressividade de um tumor leva à aplicação de tratamentos padrões – como quimioterapia e radioterapia, que são extremamente tóxicas – em pacientes que poderiam ser tratados de forma mais branda. O laboratório de Genômica e Expressão Gênica em Câncer do Instituto de Química da USP, coordenado pelo professor Eduardo Moraes Rego Reis, tem interesse em entender os processos biológicos básicos responsáveis pela transformação da célula em maligna e a utilização desse entendimento para contribuir para o diagnóstico molecular do câncer. “Temos interesses em identificar genes que, quando estão alterados em determinado tipo de tumor, podem indicar se aquele tumor vai ser mais ou menos agressivo”, explica Eduardo. O estudo levará à identificação do grau de malignidade do tumor e à criação de tratamentos personalizados.

Os objetivos da pesquisa é fazer um prognóstico do câncer, ou seja, identificar uma assinatura molecular que prediga o tipo de evolução que o tumor de cada paciente vai ter. Para isso, o laboratório possui colaborações com grupos clínicos que trabalham diretamente com pacientes. “Não estamos dentro do hospital, então precisamos ter acesso às amostras dos pacientes com seu consentimento”, explica Eduardo. Essas amostras são coletadas de pessoas com câncer submetidas a cirurgias ou biópsias. “É coletado um pequeno fragmento, que é congelado em nitrogênio líquido para conservar o RNA, molécula responsável pela síntese de proteínas da célula”, completa. Após esse procedimento, os pesquisadores observam se um gene está mais ou menos ativo em um tipo de tumor a partir da medição do nível de RNA que está presente nas células.

Além do tecido tumoral, os pesquisadores observam amostras de tecidos normais. “Temos acesso à história clínica dos pacientes, que também é fundamental”, fala Eduardo. Os tecidos normais são estudados quando se quer identificar genes responsáveis pela transformação maligna da célula. “Quando a gente identifica genes que estão alterados no tecido tumoral, eles podem ser candidatos para genes que transformam a célula em maligna”, explica o pesquisador. Porém, a alteração desses genes pode ser apenas uma consequência da transformação em célula cancerosa, porque vários deles mudam seu padrão de expressão nessa situação. “O difícil é identificar qual deles é a causa, qual deles foi a chave que fez com que a célula mudasse”, completa. Já para se descobrir quais genes indicam a agressividade de um tumor, compara-se os tecidos de tumores mais e menos agressivos.

O estudo começa com a ajuda de um processo bioquímico para marcação do RNA das células com moléculas fluorescentes. “Por exemplo, marcamos os RNAs isolados de tumores mais agressivos com uma molécula vermelha e os de tumores menos agressivo, com uma molécula verde”, explica o pesquisador. Após a marcação, mistura-se quantidades iguais de cada uma das população de RNAs marcados e incuba-se com microarranjos de DNA. Os microarranjos de DNA são sintetizados em lâminas de vidro e contêm sondas capazes de detectar o nível de expressão de cada um dos genes humanos. Os RNAs grudam-se por complementaridade nas sondas que correspondem à sequência do gene. “Se um determinado gene está mais ativo em alguma das amostras, um aumento relativo na intensidade de cor verde ou vermelha”, diz.

A lâmina é lida em um leitor a laser que traduz a imagem em valores numéricos. É visto o nível de atividade de cada gene em tumores mais ou menos agressivos. “É isso que chamamos de assinatura molecular. Tentamos identificar uma assinatura molecular de expressão gênica que correlacione com o grau de atividade de cada gene com a agressividade do tumor”, explica Eduardo. Isso é feito para várias amostras de forma a ter um resultado estatisticamente significativo.“Após a validação de uma assinatura de prognóstico molecular em um grande numero de amostras, quando aparecer um novo paciente no hospital, você pode isolar um pedacinho do tumor dele, fazer um experimento semelhante e olhar a assinatura de expressão nesse conjunto de genes. Agora você vai olhar só para alguns genes, não para todos, e a partir do perfil de assinatura estabelecer a probabilidade de boa ou má evolução”, diz o pesquisador.

A pesquisa abre caminhos para se pensar no diagnóstico molecular do câncer, ou seja, a possibilidade de prever o aparecimento de um tumor antes de ele aparecer. Porém, isso ainda é uma realidade distante. O estudo exigiria que os pesquisadores possuíssem amostras de tecidos de indivíduos antes de desenvolverem a doença e, posteriormente, acompanhá-los para acompanhar sua história clínica. Com muitos anos, poderiam ser observados os que desenvolveram câncer, dividi-los em grupos e fazer um procedimento semelhante ao que é feito para o prognóstico. “É imprático fazer isso. Além de que existe toda uma questão ética, porque não conseguimos ter acesso a tecidos de indivíduos sem justificativa”, explica Eduardo.

Os estudos moleculares, no entanto, continuam se desenvolvendo. A tendência é de que a medicina molecular se instale cada vez mais à medida que os testes fiquem mais baratos e a população possa ter acesso a testes moleculares preventivos. “Seria pegar uma amostra de sangue do indivíduo e observar o nível de expressão de um painel de genes que possam sugerir a presença de um tumor ou uma predisposição ao seu aparecimento. Os indivíduos que apresentassem uma assinatura típica serão estudados mais afundo ou mantidos sob acompanhamento”, diz o professor Eduardo. Apesar de distante, os resultados já estão caminhando para se tornar realidade em relação ao prognóstico do câncer.

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