São Paulo (AUN - USP) - A professora Berta Waldman, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, lançou em Abril o livro “O teatro ídiche em São Paulo” (Annablume, 2010, páginas 86, R$40,00). A obra faz um resgate histórico da tradição do teatro ídiche na capital paulista, forte em bairros de influência judaica, como o Bom Retiro. O evento de lançamento aconteceu no Museu da Língua Portuguesa e contou com apresentações de canções típicas em ídiche.
“O Teatro ídiche em São Paulo” baseia-se em entrevistas dos atores que participaram desse teatro, quando jovens. Como os atores eram imigrantes judeus provenientes da Europa Oriental, a autora fez também um apanhado dos processos de (e) imigração de judeus no início do século XX, da formação de um bairro que aglutinava italianos e judeus, principalmente o Bom Retiro, e de como o grupo se organizava, sendo o teatro um dos pólos de suas atividades. Os pais de Berta são imigrantes poloneses dessa geração e ela, quando pequena, chegou a assistir aos espetáculos desse teatro, porque tinha um tio que era ator: Mendel Sztejnhaus. Ao perceber que essa geração estava morrendo, resolveu fazer as entrevistas, entre 1987 e 1990. “Mas uma vez realizadas, não sabia como compor o texto, porque só trabalho com texto literário. Deixei as entrevistas de lado, até o momento em que não quis mais esperar para finalizar o trabalho. Custou escrever esse livro. Ele foi uma exceção” contou a professora Berta.
Para a professora, o objetivo de lançar um livro como este é o de reter um pouco da história da participação da imigração judaica na composição da cidade de São Paulo e do Brasil. Para fazer o livro a professora não contou com nenhuma verba de apoio.
Há, inclusive, certa confusão entre ídiche e hebraico. No entanto os dois são idiomas distintos. A confusão vem pelo fato de o ídiche ser grafado com caracteres do alfabeto hebraico. O ídiche surgiu por volta do século X, nas áreas fronteiriças franco-germânicas, às margens do Reno, a partir da base morfológica e léxica do alemão medieval. Mas era grafado com o alfabeto hebraico. Ele nasceu como linguagem do cotidiano e, sobretudo das mulheres que não aprendiam o idioma sagrado – o hebraico, um dos idiomas em que é escrita a Bíblia hebraica. “Com a diáspora dos judeus, o hebraico manteve-se como língua litúrgica e também literária, enquanto o ídiche era uma das línguas judaicas de comunicação, apresentando também uma rica literatura”, completou a professora.
A professora Berta é formada em Letras, pela Universidade de São Paulo, trabalhou durante vinte e um anos no Departamento de Teoria Literária, do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. Aposentou-se na Unicamp e veio para a USP como professora convidada, junto ao Departamento de Teoria Literária e junto à área de Língua e Literatura Hebraicas, em 1996. Passados dois anos, a área de Hebraico ficou desfalcada de docentes, porque alguns se aposentaram e outros faleceram. Ela foi incentivada a permanecer na área e prestou um concurso na disciplina de Literatura hebraica e judaica, tornando-se, assim, professora efetiva. Seus livros publicados são “Do vampiro ao cafajeste: uma leitura da obra de Dalton Trevisan” (São Paulo: Hucitec, 1982), “A paixão segundo Clarice Lispector” (São Paulo: Brasiliense, 1983). Em co-autoria com Carlos Vogt, “Nelson Rodrigues: Flor de obsessão” (São Paulo: Brasiliense, 1985), “Entre passos e rastros: presença judaica na literatura brasileira” (São Paulo: Perspectiva, 2003), “Escritos sobre literatura hebraica” (São Paulo: Humanitas, 2004) e “O teatro ídiche em São Paulo” (Annablume/Casa Guilherme de Almeida, 2010).