São Paulo (AUN - USP) - O documentário não é um veículo para transmitir informação, mas para transmitir certa experiência e reflexão sobre determinado assunto. Essa é a ideia de João Moreira Salles, documentarista brasileiro que esteve recentemente no Seminário Jorge Amado da Faculdade de Filosofia Letras e Ciência Humanas da USP (FFLCH – USP) em uma apresentação de seu documentário sobre o escritor baiano.
Para Moreira Salles, essa transmissão da experiência é o que diferencia o documentário de uma peça puramente jornalística. Na opinião do documentarista, essa experiência só é acumulada quando o filme traz diferentes vozes e opiniões. Ele cita o exemplo do “Edifício Master”, do cineasta Eduardo Coutinho, que traz diferentes entrevistas e cria uma narrativa com vários discursos. Esse formato é chamado de modelo de mosaico e reúne diferentes fragmentos para montar a história final do filme.
Mais especificamente sobre seu filme “Jorge Amado”, João fala que ainda não tinha maturidade como documentarista e, portanto, não conseguiu utilizar esse modelo de mosaico corretamente. Ele afirma que conseguiu incorporar essa polifonia apenas em seus filmes posteriores, como em “Santiago”. O documentário “Jorge Amado” tem a intenção de provar algo e, apesar das várias entrevistas, as pessoas são usadas para construir esse propósito inicial. “O filme é editado de uma forma que as pessoas acabam dizendo o que não disseram de verdade”, disse o cineasta.
Ele fala que a ideia por trás de “Jorge Amado” não é ingênua, apesar de sua confecção direcionada. Moreira Salles tenta trazer o escritor baiano como alguém que leu e popularizou o também escritor Gilberto Freyre, cuja obra é um grande legado para a História brasileira. “A minha impressão era que se desconsidera Jorge Amado como boa literatura”, disse o documentarista que tentou desconstruir essa impressão.
O documentário “Jorge Amado” traz o conceito de mestiçagem do povo brasileiro que o escritor adotou e tentou incorporar em suas obras, a partir da construção de personagens baseados na vida cotidiana da Bahia. “Meus personagens estão na rua, eles estão no Pelourinho, é gente que eu conheci”, disse Jorge Amado no filme. O longa-metragem que foi originalmente produzido em 1995 para um canal da televisão francesa foi recusado. Moreira Salles comprou os direitos do filme de volta para não ter que construir uma narrativa que não concordava.