ISSN 2359-5191

06/07/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 46 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Falta de políticas de incentivo atrasa pesquisas em medicamentos e agroquímicos

São Paulo (AUN - USP) - A falta de interesse e investimentos em pesquisas no planejamento e desenvolvimento de fármacos e de agroquímicos atrasa o trabalho dos pesquisadores na área. O campo de criação de novos agroquímicos ou medicamentos requer altos investimentos, mas os resultados são poucos devido a complexidade do sistema biológico e das metodologias de trabalho. A professora Antonia Tavares do Amaral, coordenadora do Laboratório de QSAR e Modelagem Molecular no Planejamento Racional de Moléculas Bioativas do Instituto de Química da USP, acredita que deveria existir uma política que incentivasse os pesquisadores conversarem entre si para que as pesquisas andassem mais rapidamente. “O que acontece é que cada pesquisador trabalha na sua especialidade e não está, em geral, disponível para interagir com outras áreas de pesquisa, por conta da grande cobrança de resultados e de publicações”, diz Antonia.

No Brasil, a área de pesquisa em modelagem molecular de medicamentos e, principalmente, de outros compostos bioativos ainda é bastante incipiente. “Quando você descobre um composto ativo, daí para virar um medicamento tem muito trabalho pela frente. Precisam ser testados, tem uma etapa longa e muito investimento”, diz a pesquisadora. Os resultados negativos são muitos e os pesquisadores precisam de persistência e muito trabalho para recomeçar. “No Brasil, não se investe porque o retorno é baixo. É um trabalho de risco”, completa.

Segundo Antonia Tavares do Amaral, a indústria no Brasil tem tradição em relação ao uso e toxicidade de agroquímicos, mas eles não são um foco de interesse para novas pesquisas. “Precisa haver interesse de alguém, que eu não sei quem é, em investir na pesquisa de metodologia de modelagem molecular no estudo de agroquímicos”, explica. O investimento para pesquisa em medicamentos é um pouco mais fácil de ser conseguido e justificado, a não ser que seja para as chamadas doenças negligenciadas, como malária, tuberculose e doença de Chagas.

Hoje, os órgãos governamentais estão recebendo regulamentações de órgãos internacionais em relação à toxicidade de produtos químicos. “As pessoas que trabalham nessa área estão sendo obrigadas a utilizar produtos não-tóxicos. Então, tem muita gente nos procurando, porque podemos prever se os produtos serão tóxicos ou não”, explica. Por isso, existem muitas oportunidades de trabalho nessa área. “A partir de agora, os alunos da área vão ter muitas oportunidades de trabalho, pois as indústrias no Brasil vão ter que desenvolver as próprias pesquisas, não tem jeito. No entanto, os alunos, em geral, procuram temas que possam gerar resultados em um tempo curto, mas isso nem sempre acontece aqui, porque o sistema é complexo e desafiante. Só que esse trabalho não é nada monótono. Essa área de pesquisa é muito instigante”, diz.

Conseguir moléculas para os testes de validação experimental após a seleção virtual, etapa com custo baixo, também é um gargalo para as pesquisas. No Brasil, são aplicadas altas taxas alfandegárias na importação de moléculas doadas para pesquisadores. Isso retarda o trabalho, pois o custo da pesquisa se eleva desnecessariamente. Em lugares como os Estados Unidos e Europa, essas taxações não acontecem. Por isso, defende-se a política de abertura. “O Instituto Nacional do Câncer do Estados Unidos tem tanto interesse em pesquisar novas moléculas que as doa para você testar. Você escreve um e-mail, pede e eles mandam vinte moléculas por mês. Elas saem sem custo, mas, chegando no Brasil, você tem que pagar impostos”, explica Antonia.

Esse campo de estudo é novo na área de Química. Há pouco tempo, esse tipo de trabalho existia apenas na Farmácia e na Medicina, que não estavam interessadas em aspectos estruturais. “A necessidade das pesquisas está crescendo, porque os médicos, biomédicos e farmacêuticos precisam da estrutura para fazer um bom medicamento. Nesse ponto, entra o nosso trabalho”, diz Antonia. Os novos métodos de trabalho na área da Química já renderam um prêmio de inovação da Sociedade Brasileira de Química à professora.

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