São Paulo (AUN - USP) - As origens, a concepção de homem e as perspectivas sobre o futuro presentes no pensamento de Gilbert Durand foram os temas abordados pela professora Maria do Rosário Silveira Porto sobre o filósofo, na a conferência “Durand na teia da complexidade”, oferecida pelo Laboratório Experimental de Arte-Educação & Cultura da Faculdade de Educação (FE), da USP. A palestra é parte de um ciclo de seminários realizados em comemoração aos 50 anos da publicação da obra de Durand “Estruturas Antropológicas do Imaginário”,de 1960. Silveira Porto é também curadora do Centro de Estudos do Imaginário, Cultura e Educação (CICE), da FE-USP.
A professora iniciou a palestra ressaltando a importância do filósofo como um pensador do seu tempo, que viveu os acontecimentos político-culturais da França, desde a Resistência Francesa, às correntes marxistas até as manifestações da década de 60. Portanto, as origens de suas reflexões encontram-se justamente em questionamentos do século XX, principalmente no que tange as contradições da ciência moderna. Seu pensamento parte de críticas ao cientificismo positivista, apontando para uma crise epistemológica, em que a busca por modelos e sistemas acaba gerando uma deformação da sua imagem, encaminhando-a a um esgotamento.
Segundo Silveira Porto, a partir de um espírito cientificista predominante, Durand propõe um novo espírito antropológico, cujo modo de pensar trabalha sobre a revalorização da imagem a partir do imaginário simbólico. Assim, o filósofo contrapõe a supremacia de uma racionalidade reflexiva a visões de mundo que contemplam também a cultura, as tradições e os mitos no âmbito da ética, da estética e da política. Nesse contexto, a concepção de homem trabalhada pelo filósofo se baseia no chamado homem de tradição, aquele que pode ser apreendido por meio de uma hermenêutica simbólica. Essa concepção opera através dos símbolos, conceituados por Silveira Porto como a reunião de duas partes que separadas não teriam valor real, mas que juntas adquirem um sentido pleno. A constituição desse homo symbolicus, portanto, seria uma maneira de conferir sentido ao mundo por meio dos símbolos.
Desse modo, as propostas de Durand para o futuro estão baseadas em uma filosofia da cultura e suas produções do imaginário no trajeto antropológico. Esse novo espírito configura a revalorização das imagens e dos significados nas representações e atividades de criação humana, como forma de enfrentamento às angústias do homem em relação à passagem do tempo e à morte que não se limite às explicações da ciência. Assim, a professora conclui que essa “nova cultura” proposta pelo filósofo visa a restauração do imaginário e da razão cultural aplicada a todas as áreas do conhecimento, em busca de outras formaspercepção de sentido e significado, através da mediação dos símbolos.