São Paulo (AUN - USP) - Hoje, uma das maiores preocupações humanas é a sustentabilidade de suas atividades econômicas. A produção de combustíveis renováveis que não degradem o meio ambiente está entre elas, visto que o petróleo é um composto finito e alguns biocombustíveis podem impactar as áreas de cultivo. O Brasil está avançando na criação de fontes de energias renováveis e uma alternativa é a produção de combustíveis a partir de algas marinhas. O professor Pio Colepicolo, coordenador do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular de Algas do Instituto de Química da USP, estuda as algas marinhas da costa brasileira e possui parcerias para o cultivo de algas que serão utilizadas para produção de compostos economicamente importantes.
“Algas marinhas são muito ricas em lipídeos. Então, você pode usá-las como fonte de energia para substituir o diesel, por exemplo”, explica Pio. As macroalgas também são ricas em ágar, um açúcar que permite que seja feita a quebra de sua molécula, fermentação e produção de etanol, o álcool utilizado em veículos. A eficiência é a mesma do etanol produzido com a cana-de-açúcar, mas o preço final do litro de álcool de algas ainda é maior. O encarecimento do processo ocorre porque existem etapas integradas antes da fermentação. “É como se você pegasse, por exemplo, a celulose da cana-de-açúcar e a degradasse, para depois fermentar e depois gerar o etanol”, explica o pesquisador. “Acho que o barateamento ainda vai demorar um pouco, porque primeiro você tem que buscar demanda e ter alga suficiente para produzir grandes quantidades de etanol”, diz Pio.
Um ponto importante da utilização de algas marinhas como fontes de combustível é a área utilizada para seu cultivo. Em comparação com o plantio de soja ou de cana-de-açúcar, por exemplo, a área para o cultivo de algas é muito menor. Além disso, é possível cultivá-las em outros locais, como tanques de camarões e praias com águas calmas. “Os bancos de algas estão sendo bastante atacados pela aplicabilidade que elas têm. Nós temos um projeto junto com o Instituto Botânico da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no qual a ideia é desenvolver fazendas nas quais se cultive, exclusivamente, essas algas para aplicação”, diz Pio. Nas fazendas de camarões, as algas são cultivadas de forma integrada. O camarão não as come porque ele tem a própria ração. Nas praias de águas calmas, as algas são amarradas e crescidas em cordas.
Outra vantagem das algas é que elas podem ser coletadas quatro vezes por ano. Isso aumenta a efetividade e demanda de etanol e outros biocombustíveis, como biodiesel. “Você colhe a cana-de-açúcar uma vez por ano, mói e produz a garapa. Já a alga, você cultiva e a cada três meses é possível coletar. Elas crescem muito rápido e você comercializa de forma direta, sem precisar que se ataque os bancos naturais e degradem o ambiente”, explica Pio. O rendimento da alga comparado ao da soja também é melhor. Segundo o pesquisador, a cada hectare de soja produz-se cerca de 100 litros de óleo, e para cada hectare de alga plantada, comparativamente, produz-se em torno de 100 mil litros, diferença de 100 vezes mais.