São Paulo (AUN - USP) - Produtos como cosméticos e medicamentos para o tratamento do câncer são desenvolvidos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP através da nanotecnologia. Estruturas menores do que bactérias são criadas para atingir diretamente a fonte do problema no organismo humano e trazer mais conforto ao consumidor.
Os tratamentos tradicionais utilizados hoje não são os melhores possíveis. Segundo a pesquisadora Nádia Bou-Chacra, a nanotecnologia é a melhor plataforma para o desenvolvimento de medicamentos inteligentes.
Os remédios quimioterápicos, utilizados contra o câncer, por exemplo, são muito agressivos ao organismo. Em vez de agir apenas em células cancerígenas, eles atacam todas as outras, o que é prejudicial para o paciente. “O ideal seria um quimioterápico que atuasse diretamente nas células cancerígenas e ponto”, diz a professora.
Segundo Nádia, o produto desenvolvido para o tratamento do câncer utiliza nanoestruturas contendo substâncias que atraem as células cancerígenas, como colesterol e glicose. “Você faz uma espécie de Cavalo de Troia”, explica a professora. As pesquisas coordenadas por ela mostraram que, depois do uso do novo medicamento, a concentração de ativos era maior nessas células do que nas saudáveis.
Um outro exemplo do uso da nanotecnologia no combate ao câncer está em uma parceria da pesquisadora da USP com o professor da Universidade de Alberta, no Canadá, Raimar Loebenberg. Juntos, eles desenvolveram um produto para o tratamento do câncer de pulmão, que matou quase 20,5 mil pessoas só no ano de 2008, no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer.
Um dos problemas dos medicamentos que estão no mercado é uma substância prejudicial às células e ao coração, a doxorrubicina. O produto desenvolvido pelos pesquisadores, no entanto, pode ser inalado e atua diretamente nas células cancerígenas do pulmão, após a liberação gradual da substância pelas nanoestruturas.
Perspectivas
A professora da FCF-USP está convicta de que, no futuro, todos os cosméticos serão produzidos a partir da nanotecnologia. “A eficácia deles é muito maior”, comenta. Ela conta que pesquisas com protetor solar deixaram o produto transparente depois da transformação de um de seus componentes em escala nanométrica. “É isso o que a gente espera da nanotecnologia: algum fenômeno surpreendente. O ouro pode ficar de outra cor, a solubilidade pode mudar”.
As indústrias, no entanto, não têm aproveitado o que essa tecnologia tem para oferecer. “Infelizmente a quantidade de trabalhos publicados e a quantidade de produtos no mercado são muito desiguais. Isso dá certa agonia, principalmente quando a gente vê o potencial dessa plataforma”, lamenta Nádia. Nos últimos cinco anos, o número de trabalhos sobre o tema dobrou em todo o mundo, chegando a mais de 10 mil publicações em 2009. “É como se tivesse um mundo invisível que a gente começa a enxergar agora”.