ISSN 2359-5191

26/07/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 59 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Molécula produzida por alga vai baratear protetor solar

São Paulo (AUN - USP) - As algas marinhas, além da conhecida importância na cadeia alimentar e na produção de oxigênio, são grandes produtoras de moléculas economicamente rentáveis. O estudo de substâncias retiradas de algas marinhas da costa brasileira, feito pelo laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular de Algas do Instituto de Química da USP, abre alternativas para novos usos de compostos bioativos, aqueles que interagem com o sistema biológico. O grupo, coordenado pelo professor Pio Colepicolo, está trabalhando com uma molécula de alga capaz de absorver radiação solar. A intenção é usá-la em loções solares.

Os pesquisadores do laboratório foram os primeiros a purificar o composto chamado de micosporina. Produzido por alguns tipos de algas, a molécula é capaz de absorver radiação ultravioleta e fazer com que a alga não morra quando exposta ao sol em marés baixas. O grupo possui um projeto junto com a empresa Natura para purificar e aplicar a substância em loções protetoras solares. “A ideia é substituir as moléculas sintéticas que estão nos protetores solares por moléculas naturais produzidas por algas. A eficiência está bastante próxima, poderia até dizer que é comparada com os compostos sintéticos que são usados hoje”, diz Pio. O ponto principal é o barateamento do protetor solar e a ampliação do uso. “Hoje, protetor solar é muito caro e, por isso, poucas pessoas têm acesso. Você vê na praia muita gente não usando protetor solar, não que não queiram, mas porque é caro”, fala o professor. A aplicação da molécula natural produzida na costa brasileiras por algas diminuiria o custo.

Os peixes, crustáceos e corais também utilizam essa molécula produzida por algas para proteção contra radiação ultravioleta. Ela é absorvida pela alimentação. “Não sei se a gente consegue fazer isso com humanos [pela alimentação], mas como protetor solar já tem experimentos mostrando que são bastante eficientes”, diz Pio. Outro uso da micosporina é o aumento da durabilidade do verniz, que estraga quando exposto ao sol.

Além da proteção solar, outras substâncias produzidas pelas algas possuem importância econômica e estão presentes em diferentes lugares. Algumas algas produzem pigmentos que são chamados de carotenos, como o betacaroteno da cenoura, que lhe dá a cor alaranjada. “Esses carotenos são os mais diversos que existem, tem mais de 600 descritos na literatura”, diz Pio. Um importante carotenóide é a astaxantina, pigmento que dá cor à carne do salmão. “Esse carotenóide é sintetizado exclusivamente por algas marinhas. As pessoas comparam salmão por causa da cor dele. Se ele fosse branco, não chamaria tanta atenção. Então, o valor econômico [desse carotenóide] no mercado mundial é enorme, porque a quantidade de salmão consumido é muito grande”, diz o professor. Na natureza, o salmão se alimenta dessas algas produtoras de astaxantina. Sem o carotenóide, o peixe desenvolve uma série de problemas relacionados à falta do pigmento em sua carne, como não conseguir botar ovos, subir os rios e ter sentido de direção.

Outro emprego de carotenos produzidos por algas marinhas é o enriquecimento da cor da gema de ovo pela ração veterinária. No Brasil, as gemas ainda não passaram por esse processo, mas nos Estados Unidos já existem fazendas que criam aves com ração enriquecida com extratos de alga marinha. “A gema do ovo fica muito mais vermelha, fica mais atrativo. As pessoas compraram porque veem essa cor”, explica o pesquisador.

Alguns compostos retirados de algas também já são usados como anti-inflamatórios. “Tem moléculas que são extraídas de algas e modificadas quimicamente com atividade biológica, antioxidantes, por exemplo”, diz Pio. Segundo o pesquisador, estão sendo desenvolvidos anti-virais no Rio de Janeiro a partir de algas marinhas.

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