São Paulo (AUN - USP) - A fenomenologia do escritor, poeta e filósofo natural alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) é o tema central de um grupo de estudos e de um curso de extensão promovidos pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O grupo é aberto e se reúne semanalmente, desde 19 de março, na sala 5 do Departamento de Geografia, toda quarta-feira às 16 horas. Já o curso ocorrerá entre 7 e 26 de julho, na faculdade. Ambos têm como docente responsável o professor Andreas Attila de Wolinsk Miklós.
A fenomenologia, termo cunhado no início do século XX por Edmund Husserl (1859-1938), consiste na busca da verdade através do estudo dos fenômenos naturais e humanos sem qualquer julgamento sobre a essência e a existência dos objetos e do real. É uma das mais complexas vertentes da filosofia moderna, que tenta pensar a experiência pura, “por dentro”. O austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) adaptou sua própria percepção à fenomenologia de Husserl e à cosmovisão naturalista de Goethe para criar a antroposofia, o movimento da “ciência do espírito” que procura explicar o conhecimento da natureza e do ser humano superando os limites metodológicos da ciência convencional. A antroposofia tem caráter espiritualista e pretende abarcar todos os aspectos da vida; pode ser encontrada, por exemplo, na rede mundial de Escolas Waldorf, que praticam uma pedagogia de desenvolvimento pessoal, não-competitivo.
O grupo de estudos coordenado por Miklós, que se baseia na leitura e interpretação de textos de Steiner e outros autores, conta com cerca de quinze participantes, oriundos de áreas tão díspares quanto geologia e letras, biologia e ciências sociais. Miklós utiliza, para analisar a visão de Goethe, exemplos práticos e conceitos filosóficos. Tanto o grupo como o curso de extensão partirão de pressupostos teóricos – como as noções de verdade, objeto, experiência e conhecimento – para chegar a objetivos práticos – a descrição de fenômenos e a compreensão do real, a contemplação, a intuição e a inspiração.
A meta do grupo e do curso não é a doutrinação dos alunos para uma verdade absoluta metafísica ou religiosa, e sim a disseminação e o aprofundamento de uma visão de mundo científica-espiritualista, a de Goethe, aplicada à vida contemporânea. Os estudos devem possibilitar um maior entendimento da unidade entre homem e natureza, bem como superar a falsa dicotomia entre mecanismo e misticismo, que há dois séculos Goethe já criticava. Para a antroposofia, afinal, o ser humano não deve ser forçado a escolher entre os fundamentalismos da tecnologia e da teocracia. Existem outros caminhos.