São Paulo (AUN - USP) - Se a razão de existência de um laboratório de tratamento de resíduos é possibilitar o reaproveitamento desses materiais, evitando assim seu descarte desnecessário, o Laboratório de Solventes do IQ - USP inova em mais um aspecto. Além de manipular os solventes utilizados em procedimentos em seu Instituto, ele recebe de alguns dos demais laboratórios da Universidade os seus reagentes com data de uso legal vencida, mas que ainda podem ser aproveitados em seus procedimentos.
“Algumas substâncias químicas possuem prazo legal de utilização. O que não significa que percam seu valor de uso depois dessa data. Por isso, recebemos o que outros laboratórios jogariam fora.” É o que declara a doutora em Química Ambiental Patrícia Di Vitta, responsável técnica pelo Laboratório de Solventes. “Quando o sal de cozinha perde a validade e absorve a umidade do ar, ele não se transforma em nada, e, por isso, não deixamos de utilizá-lo. Por isso, nosso laboratório consegue aproveitar em seus procedimentos o que seria descartado.”
A função desse laboratório é recuperar solventes orgânicos residuais, como acetona, metanol, clorofórmio, hexanos e toluenos, solventes com mercúrio e soluções aquosas de metais pesados. Os solventes impuros são trazidos em garrafas de vidro, por cada laboratório, e passam a servir de reagentes. “E nós os devolvemos com até 100% de pureza”, com qualidade, muitas vezes, superior à que tinham quando comprados, já que no mercado os produtos nem sempre são vendidos com essa pureza.
O laboratório conta com destiladores, reatores, cromatógrafos e vidraria. Seu diferencial, segundo Di Vitta é, além da quantidade de equipamentos disponíveis, o volume de trabalho, já que, sem contar o total da USP, o IQ, sozinho, possui uma centena de laboratórios, incluindo os didáticos e os de pesquisa. “Por aqui veiculam por ano cerca de cinco toneladas de solventes orgânicos e uma tonelada de solução aquosa de metais pesados.” Já os resíduos sólidos não aproveitáveis, que totalizam cerca de oito toneladas ao ano, são destinados à incineração ou ao aterramento por empresas especializadas e licenciadas pela Cetesb.
Além de responsável pelo laboratório, que foi montado com financiamento da Fapesp e é hoje mantido pela Central Analítica do IQ, Di Vitta integra com outros quatro profissionais a Comissão de Ética Ambiental (CEA) do IQ – USP, instituída em 2005 também pela Fapesp. “O trabalho dessa comissão é avaliar se os métodos propostos para o tratamento de resíduos em pesquisas contemplam normas ambientais.” Di Vitta deixa também claro que suas funções no Laboratório de Solventes e na CEA são distintas, mas intimamente integradas, já que a comissão não é diretamente responsável pelo funcionamento dos laboratórios, mas pela inspeção de seu funcionamento.
Se antes, a ideia de reaproveitamento dentro da universidade era algo esporádico, pontual e respondia a interesses meramente econômicos, hoje dá-se também uma resposta ao meio-ambiente. Di Vitta finaliza: “Não faz sentido ter dentro da Universidade um curso em Química Ambiental se continuarmos a jogar recursos reaproveitáveis fora.”