São Paulo (AUN - USP) - Você, sua mãe, seu pai, seus irmãos, seus amigos, seus vizinhos, talvez até o cara da padaria e o dono da banca de jornal. As pessoas que formam seu dia-a-dia e as quais você recorre para diversas atividades formam sua rede social. E as maneiras com que você se relaciona com essas pessoas podem influenciar decisivamente a continuação da pobreza. “Redes Sociais, segregação e pobreza”, livro recentemente lançado em São Paulo pelo professor Eduardo Marques da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) traz os meios para provar tal tese. Fruto da pesquisa de livre-docência do autor e de outro livro já lançado sobre o assunto, a obra afirma que certos padrões sociais verificados na vida das pessoas, principalmente nas relações mais locais e mais primárias, influenciam decisivamente na continuidade da pobreza.
Eduardo Marques diz que a idéia para publicar o livro surgiu como um desdobramento de estudos anteriores, em especial da obra "São Paulo, segregação e desigualdades sociais", organizada por ele e pelo colega Haroldo Torres em 2005. Os resultados obtidos com as pesquisas para o livro anterior sugeriam que a segregação do tipo espacial produziria isolamento social. Isso reduz o acesso dos indivíduos a oportunidades fora de seu ambiente. O professor diz que, apesar de bastante incomodado com esse resultado, pois indivíduos segregados espacialmente poderiam estar conectados por diversos tipos de vínculos a outras pessoas fora de seu ambiente social cotidiano, ele resolveu desenvolver uma pesquisa para testar a hipótese.
210 redes pessoais de indivíduos em situação de pobreza de sete localidades diferentes em termos habitacionais e de segregação na região metropolitana de São Paulo foram pesquisadas. O objetivo foi entender, a partir das conclusões, como essas pessoas mobilizam suas redes para resolver problemas cotidianos. “Esses resultados permitem a discussão de mecanismos relacionais no livro”, diz Eduardo. O professor também afirma que está processando os dados de pesquisas de mais 150 redes sociais da cidade de Salvador. “Acredito que a comparação dos padrões nas duas cidades pode ajudar a entender ainda melhor o fenômeno”, ressalta.
A tese central da pesquisa sustenta que alguns padrões sociais cotidianos estão associados a circunstâncias mais intensas de carências. Isso se reflete em acesso a bens e a serviços obtidos em mercados e por apoio social. Sobre essa perspectiva nova, o professor conclui: “é possível afirmar que a sociabilidade influencia decisivamente a pobreza, o que sugere que deveria ser incorporada de forma mais sistemática aos estudos do tema, atualmente centrados de forma demasiada em processos econômicos, a meu ver”.