São Paulo (AUN - USP) - Quem entra no IGc (Instituto de Geociências) da USP depara-se com uma exposição um pouco diferente da habitual: uma coleção de conchas. Essa é a primeira exposição do projeto “Eu, Cientista da Terra”, uma iniciativa do museu do IGc, que tem como objetivo expor coleções particulares. “A ideia é mostrar que cada um tem acesso ao universo museológico. Pode até ter na sua casa e não saber disso”, diz Miriam Della Posta, que é organizadora da exposição, juntamente com Daniel Machado.
A discussão sobre realizar uma exposição é recente. Veio com um livro que o colecionador Paulo Freitas ganhou sobre conchas da Angola, sua terra natal, que aumentou seu interesse. O presente veio de Luiz Eduardo Anelli, professor de sua filha, aluna de Geologia, que já havia comentado em classe sobre a coleção do pai. Daí surgiu a ideia da exposição, que amadureceu e transformou-se no projeto “Eu, Cientista da Terra”.
A coleção de conchas começou muito antes, quando Paulo Freitas tinha 9 anos e morava numa praia em Luanda. As conchas estavam presentes na areia da praia, na culinária e até mesmo nos selos. Assim surgiu o interesse por elas. Depois disso, ele morou na África do Sul e reside atualmente no Brasil.
Em suas viagens, nunca deixou de coletar conchas. Com o tempo passou também a comprá-las. Mas prefere obtê-las por conta própria: “Comprar é uma opção, mas não é a única. Você pode comprar uma coleção inteira até mesmo pela Internet, mas não tem um valor sentimental”. Ele conta que somente comprou conchas de lugares mais distantes, como as do Pacífico e do Índico.
Já existia a vontade de dividir sua coleção com as pessoas. Nos últimos anos ele montou sua exposição particular em casa, em móveis apropriados, expondo para as pessoas de seu círculo. Por isso foi muito bem aceita a proposta de expô-las no instituto.
Na exposição, podem ser vistos desde os caracóis até o serpulorbis, que Paulo Freitas teve dúvidas de que fosse realmente uma concha. Há também curiosidades, como a concha do argonauta, que é, na verdade, uma cápsula que a fêmea produz anualmente para a desova.
As pessoas que visitam a exposição acham a ideia muito interessante. “O que mais me chama a atenção é a complexidade das conchas. Principalmente o nautilus e o pente de Vênus”, diz a visitante Luciana Spedine. Outros visitantes impressionam-se com o tamanho da amonita, que pertence a um grupo de moluscos marinhos extintos.
Como engenheiro, Paulo Freitas julgou interessante mostrar a ligação da natureza com a matemática. A concha do nautilus pertence à sequência de Fibonaci, onde a soma do primeiro número com o segundo será igual ao terceiro e assim sucessivamente. A mitra episcopal também tem sua concha gerada por uma fórmula.
Com a exposição, Paulo Freitas passou a aprender mais sobre o objeto de sua coleção: “Essa exposição está me fazendo crescer como colecionador”. Ele realizou diversas pesquisas, juntamente com os organizadores, e até descobriu que existe uma sociedade de conquiliologistas (colecionadores de conchas) no Brasil.
O espaço é temporário, deve durar três meses. A proposta é que as pessoas sugiram novas exposições, relacionadas à história natural. Não é necessário possuir informações precisas sobre o material. “Como é uma coleção pessoal, você pode associar a sua mostra a alguma coisa que esteja relacionada à sua vida”, explica Ideval Souza Costa, chefe técnico do museu. As pessoas podem entrar em contato com a direção do museu para informar sobre suas coleções particulares. Se o material for interessante para exposição em quantidade suficiente para expor, o museu entrará em contato. São realizadas reuniões com o colecionador, nas quais ele participa da organização da exposição e dá suas opiniões.