São Paulo (AUN - USP) - Em áreas afastadas da cidade, basta chover para que a água infiltre facilmente no solo. Mas, e na cidade? Um estudo mostrou que em áreas urbanas essa infiltração também ocorre. O estudo foi tema da dissertação de Mestrado “Recarga de aquífero em área urbana: estudo do caso de Urânia”, de Carlos Henrique Maldaner, defendida no IGc (Instituto de Geociências) da USP.
A dissertação contou com a orientação do professor Ricardo Hirata e com o apoio da Sabesp de Urânia, que cedeu seu laboratório, e do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que forneceu seus dados. O município estudado localiza-se a noroeste do Estado de São Paulo, próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Os objetivos da dissertação foram estimar a recarga em Urânia, através de avaliação piezométrica (avaliação do nível da água) e balanço hídrico e estudar as principais fontes de recarga da região.
Recarga é a água que infiltra no solo e consegue atingir o nível do aquífero, adicionando um volume extra a ele. Os principais fatores que influenciam a recarga são: precipitação (principal fonte), evapotranspiração (perda de água do solo por evaporação), topografia (quanto mais acidentada a região, maior o escoamento superficial), tipos de solo ou rocha (que permitem uma infiltração mais fácil ou mais difícil), rios e córregos (funcionam como fonte de recarga em áreas de clima árido).
Em áreas urbanas existe uma grande diferença em relação a áreas rurais: o solo é impermeabilizado, dificultando a penetração da água da chuva no solo. Mas Maldaner explica que a própria falta de permeabilidade pode ser um fator positivo para a recarga, pois diminui a evapotranspiração. Uma vez que a água consegue infiltrar, o aquífero encontra dificuldade em perdê-la. Outras fontes de recarga em área urbana são fugas na rede de água e irrigação de jardins públicos.
É importante conhecer a fundo a recarga de um aquífero para que se possa praticar a exploração sustentável. Através de cálculos, é definida a quantidade de água que poderá ser retirada, a qual não deve ser maior nem igual à quantidade de recarga.
No caso de Urânia, a cidade é rica em poços. Foram selecionados oito poços-cacimbas (cavados à mão) para estudo. Foram selecionados também poços tubulares, amostras de esgoto e da água da Sabesp.
Como todo estudo, foram encontradas algumas dificuldades. Por exemplo, os transistores utilizados para medir a pressão nos poços apresentaram defeito e pararam de funcionar. A última medição teve se ser realizada manualmente.
Algumas conclusões a que se chegou foram o período da recarga e a quantidade de chuva necessária para que ela ocorra. Para haver recarga, é necessário que a precipitação supere a evapotranspiração. Em Urânia, isso se dá entre dezembro e fevereiro. Em todos os outros meses há déficit de umidade, de acordo com o balanço hídrico. Para que haja elevação no nível de água, são necessários uma média de 100 mm por mês, ou 1200 mm por ano.
Uma contribuição do estudo para a população local foi trazer a possibilidade de uma gestão do uso da água mais eficiente. O estudo definiu quais poços são abastecidos por águas rasas e quais são abastecidos por águas profundas. Dessa forma, é possível definir a vulnerabilidade a contaminações, que aumenta no caso de águas rasas.