São Paulo (AUN - USP) - Na manhã da quarta-feira 06 de outubro, o Karolinska Institutet, instituto localizado em Estocolmo, na Suécia, divulgou o Prêmio Nobel de Química, que neste ano foi dividido entre os professores japoneses Ei-Ichi Negishi e Akira Suzuki, respectivamente das Universidades de Purdue, nos Estados Unidos, e de Hokkaido, no Japão, e o americano Richard Heck, da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos.

Esses três professores desenvolveram suas pesquisas na área de Síntese Orgânica, que trata do planejamento e preparação de compostos orgânicos (compostos de carbono) a serem utilizados em outros procedimentos e aplicações. É o que define o professor Alcindo Aparecido dos Santos, do Departamento de Química Fundamental do IQ – USP. “Heck, Negishi e Suzuki dedicaram-se a estudos de natureza metodológica”, afirma o professor. Isso possibilitou que outros pesquisadores pudessem aplicar suas técnicas e reações, formando novas substâncias, sendo algumas “de grande relevância pela importância de sua atividade biológica”.

Nas reações desenvolvidas pelos três cientistas, destaca-se a aplicação de paládio, elemento químico encontrado na natureza sob a forma de minério, conforme afirma o professor Reinaldo Camino Bazito, também do departamento de Química Fundamental do IQ – USP, do setor de Química Ambiental. O paládio age, nessas reações, como catalisador, e torna possível que se formem ligações entre átomos de carbono, surgindo novas moléculas. “Criam-se rotas novas para se obter novas moléculas, e de modo eficiente”, destaca o professor.

As pesquisas de Richard Heck abriram “novos caminhos para a forma de se pensar o planejamento de construção de esqueletos carbônicos”, afirma Alcindo. A produção de Ecteinascidina 743, potente agente antitumoral, e o Lasiodiplodin, agente anticâncer, possuem em pelo menos uma de suas etapas de síntese, a reação de Heck.

Já os estudos de Ei-Ichi Negishi, utilizando-se de níquel ou paládio como catalisadores, permitiram a formação de ligações entre átomos de carbono, tendo como produto final moléculas bioativas. São exemplos dessas moléculas alguns compostos antitumorais, afirma o professor Alcindo.

Quanto à importância das pesquisas do professor Akira Suzuki, Alcindo relata o uso de paládio como catalisador de reações com ácidos borônicos para a obtenção de compostos bioativos de grande complexidade, como antitumorais. O uso de compostos que contêm boro são menos agressivos ao meio ambiente que os compostos utilizados para de produzir esses mesmos antitumorais, antes das técnicas desenvolvidas por Suzuki.

Para o professor Cláudio di Vitta, também do departamento de Química Fundamental do IQ – USP, as dificuldades em se formar uma cadeia carbônica mais longa e complexa vão além da necessidade de se criar novos acoplamentos entre os átomos de carbono integrantes dessa cadeia. Por isso destaca o trabalho dos três pesquisadores. “Eles conseguiram fazer esses acoplamentos seletivamente”.

A professora Liliana Marzorati, integrante do mesmo departamento que os professores acima citados, ressalta que através de reações de polimerização é possível produzir cadeias carbônicas de grande tamanho. “Mas a beleza é fazer esses tais acoplamentos na posição certa”, destaca.

Inúmeros são os laboratórios brasileiros que se dedicam à Síntese Orgânica, e, exclusivamente, às reações desenvolvidas pelos três cientistas premiados. E, de acordo com o professor Alcindo, isso se deve a uma iniciativa do IQ – USP, que em 1986 sediou a primeira edição do “Brazilian Meeting on Organic Synthesis”. Evento esse, “o mais importante da área na América do Sul”, de acordo com Alcindo, terá sua 14ª edição entre os dias 01 e 05 de setembro de 2011, em Brasília, e contará com a participação do professor Akira Suzuki como palestrante. (para mais informações sobre a lista de palestrantes convidados: http://www.bmos14.unb.br/?pg=textos-gerais&id=54).