São Paulo (AUN - USP) - Para homenagear o filósofo gaúcho Gerd Bornheim, falecido em setembro, o Grupo de Estudos Nietzsche (GEN) promoveu mais uma vez os Encontros Nietzsche, em 21 e 22 de maio, no Centro Universitário Maria Antônia e na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O evento marcou o lançamento da 14ª edição dos Cadernos Nietzsche, a revista semestral do grupo, e contou com a presença dos professores Renato Janine Ribeiro, Scarlett Marton e Ricardo Musse, que participaram do debate “Idéias em cena: filosofia e arte”.
Fundado em 1996, o GEN procura reunir os estudiosos brasileiros do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) e aprofundar a compreensão de sua polêmica obra, que questionou conceitos fundamentais ao pensamento ocidental, como moral e razão. Além dos Cadernos Nietzsche, publicados nos meses de maio e setembro, o grupo edita a coleção Sendas e Veredas, com ensaios e novas traduções dos escritos do filósofo. As publicações chegam ao público através dos Encontros Nietzsche, que apresentam conferências organizadas pelo GEN, cuja principal responsável é a professora Scarlett Marton, do Departamento de Filosofia da FFLCH.
Um dos principais expoentes do grupo era Gerd Bornheim (1929-2002), professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Pensador multidisciplinar, estudou a interação entre arte e filosofia. Dedicando-se a desvendar a relação entre os principais nomes da filosofia contemporânea, Bornheim publicou livros sobre a dialética de Karl Marx, o existencialismo de Jean-Paul Sartre e a estética social do teatro de Bertolt Brecht. Sobreviveu à perseguição da ditadura militar, mas jamais admitiu filiação a qualquer ideologia.
No debate para relembrar Bornheim, Marton ressaltou a noção de alteridade presente em sua obra. A convivência saudável com a noção de outro constituía, para Bornheim, a essência de um pensamento que não se limitou ao purismo intolerante nem ao relativismo cultural; adotou quando necessário as virtudes do meio-termo de Aristóteles, sem com isso ser aristotélico.
Janine Ribeiro, também professor do Departamento de Filosofia e atualmente candidato à presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), elogiou o falecido professor e sua busca pela liberdade em relação às grandes correntes da filosofia. “Bornheim dessacralizava o pensamento, e por isso era sempre original. Cada obra sua era uma reescrita de tudo.”
Ricardo Musse, professor da Universidade Estadual Paulista, situou Bornheim e sua ênfase na estética teatral como opostos à crítica da dramaturgia realizada por Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi e outros nomes do jornalismo cultural brasileiro.
O encontro chegou ao final com o lançamento do livro “Conhecer é criar: ensaios a partir de Nietzsche”, de Gilvan Fogel, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.