São Paulo (AUN - USP) - Solventes clorados são uma das principais fontes de contaminação conhecidas no mundo inteiro. E no Brasil não é diferente. No estado de São Paulo, de acordo com dados da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), há um crescente número de áreas conhecidas. Em 2002, eram 255 áreas. Na última atualização, em 2009, as áreas chegavam a 2900. A necessidade de técnicas mais eficientes contra essa contaminação moveu a dissertação de mestrado de Alaine Santos da Cunha: “Aplicação de técnicas químicas de remediação em áreas contaminadas por compostos organoclorados”, defendida no IGc (Instituto de Geociências) da USP.
A pesquisa foi orientada pelo professor Reginaldo Antonio Bertolo. Os objetivos do trabalho foram avaliar a eficiência dos agentes químicos injetados nas áreas na destruição dos contaminantes e os efeitos colaterais geoquímicos.
A área de estudo concentra-se no interior do estado de São Paulo, 150 km a Noroeste da região metropolitana de São Paulo. Como houve a necessidade de manter a confidenciabilidade das áreas estudadas, elas são chamadas, no estudo, área 1 e área 2.
Na área 1, funcionou uma indústria de peças automotivas, que praticava o desengraxe de peças, descartando os solventes utilizados. Para se conhecer o local e delimitar o impacto instalaram-se 62 postos de monitoramento, distribuídos ao longo do aquífero. Constatou-se que o contaminante se encontrava dissolvido na água.
Na área 2, houve estocagem de tambores contendo resíduos na década de 1990. Também se instalaram postos de monitoramento, num total de 58, distribuídos em dois níveis do aquífero freático, um nível superior e um inferior. Os contaminantes também foram encontrados na fase dissolvida, na água subterrânea.
Uma das possibilidades de tratamento é o uso de redução química, que é a ação do Ferro II com o contaminante, levando à sua degradação. A técnica baseia-se na inserção de agentes que favorecem essa redução. A partir de ensaios em laboratório, definiu-se o composto mais apropriado para cada área específica. A principal vantagem é que não há formação de produtos de degradação. As desvantagens são a mobilização de metais e o consumo total do oxigênio dissolvido.
Uma segunda metodologia aplicada foi a oxidação química, que consiste na quebra da molécula do contaminante, formando dióxido de carbono e água. As principais vantagens são a reação rápida entre o agente oxidante e os contaminantes, além da formação de materiais inócuos (não-reagentes). Como desvantagem, há a possibilidade de alteração na permeabilidade do aquífero, a mobilidade de metais durante o período de tratamento e a reação do oxidante com a matéria orgânica presente no meio (o oxidante não consegue separar o que é contaminante do que não é).
Nas duas áreas instalaram-se poços de injeção, com monitoramento que durou 11 meses na área 1 e 22 meses na área 2. Depois do tratamento, houve diminuição significativa dos contaminantes e as áreas foram consideradas remediadas.
Um efeito colateral foi o aparecimento de metais dissolvidos na água subterrânea ao longo das campanhas, mas com tendência à queda após o tratamento. “A característica do meio tende a voltar a seu estágio original”, explica Alaine.
A importância de trabalhos como o de Alaine é possibilitar novos tratamentos para a contaminação do solo e da água, que afeta muitas cidades brasileiras. Isso tem relevância sobretudo no estado de São Paulo, onde as indústrias trouxeram desenvolvimento, mas também a poluição.