São Paulo (AUN - USP) - Em Divino das Laranjeiras, um pequeno município de Minas Gerais com pouco mais de 5 mil habitantes, foi encontrado, em 2004, um mineral que recebeu o nome de atencioíta. O nome vem de Daniel Atencio, atualmente professor no IGc (Instituto de Geociências) da USP, que ficou muito feliz em ver seu nome atribuído a um mineral.

O grupo de pesquisas, encabeçado pelo russo Nikita Chukanov, publicou um trabalho definitivo sobre a atencioíta em 2006. Atencio conta que, após a descoberta, os pesquisadores procuraram um mineralogista brasileiro para dar nome ao novo mineral. Como o professor já havia realizado estudos sobre o grupo da roscherita, ao qual pertencia o mineral, ele foi escolhido para ser homenageado. Ele publicara, em 2005, o trabalho “Minerais do grupo da roscherita”.

A atencioíta, como outros minerais do mesmo grupo, é encontrada em forma de pequenos cristais, de aparência fosca. É um fosfato de cor terrosa, textura fibrosa e forma corpos esféricos.

Até hoje não se conhecem aplicações comerciais para a atencioíta. Tampouco há utilização como modelo, ou seja, para produção de sintéticos. Sendo assim, a importância é, por enquanto, apenas para estudos e como mineral de coleção, não econômica.

Como os componentes do grupo da roscherita não contêm urânio, tório, mercúrio ou outros elementos com potencial de contaminação, não há riscos envolvendo esses minerais. Eles são constituídos por elementos que fazem parte da alimentação das pessoas: fósforo, ferro, cálcio, magnésio.

Até o momento, a atencioíta foi encontrada somente em Divino das Laranjeiras. O mineral foi usado como tema numa feira de ciências da Escola Estadual de Linópolis. Mas Atencio explica que isso é uma exceção. Como a população, em geral, não lê publicações especializadas na área, novos minerais não chegam ao conhecimento das pessoas. Exceto quando o mineral descoberto é de alto valor econômico. Mesmo nesses casos, a exploração é feita por poucos, não enriquecendo as pessoas da região.

No mesmo município foram encontrados três outros novos minerais: a souzalita, a scorzalita e até mesmo a brazilianita, que é o mineral que homenageia o Brasil. Em Galileia, uma cidade próxima, foram descobertos dez minerais. Isso ocorre porque a região mineira é rica em pegmatitos com fosfato, rochas onde se forma grande variedade de minerais.

Não é raro minerais receberem nomes de pessoas. O próprio Atencio batizou um dos minerais que descobriu de ruifrancoíta, em homenagem a Rui Ribeiro Franco, que foi professor e pesquisador na área de mineralogia. Outros exemplos são guimarãesita (Djalma Guimarães), coutinhoíta (José Moacyr Vianna Coutinho) e lindbergita (Marie Louise Lindberg).

Apesar das descobertas, Atencio comenta que a mineralogia ainda é pouco desenvolvida no Brasil. Até o ano 2000 eram encontrados poucos minerais por década. Nos últimos anos, houve um aumento, sendo encontrados de um a três por ano. Mas os estudos ainda são insuficientes. “Tem pouquíssimas pessoas estudando minerais e tem muitos minerais para serem estudados”, diz. Uma possível explicação é a falta de mineralogistas. “A Itália tem 200 mineralogistas, o Brasil tem dois, três, pouca gente”, lamenta Atencio. Ele explica que hoje, o foco no Brasil são o petróleo e a geologia ambiental. Estudos básicos de minerais ficam de lado.