São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa revela que a venda de drogas vegetais (fitoterápicos) através de comércio popular traz riscos à saúde da população. O trabalho, uma parceria entre a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e o Centro de Estudos Etnofarmacológicos da UNIFESP, foi realizado através da análise da rede de comércio de medicamentos vegetais nas ruas da cidade de Diadema. No projeto, foram selecionados quatro comerciantes a fim de registrar a obtenção, manipulação, acondicionamento e uso dos medicamentos comercializados. Foram levadas em conta apenas drogas que agem no sistema nervoso (psicoativas).
A pesquisa foi desenvolvida por Julino Soares, aluno de mestrado na área de Ciências. De acordo com ele, a maioria dos comerciantes adquire os medicamentos em atacadistas da região central de São Paulo. Grande parte deles relata usar sua experiência para fazer a identificação do produto que estão comprando, muitas vezes por sua cor, odor e formato.
Segundo Julino, o próprio local onde as drogas são armazenadas e manipuladas pode apresentar riscos de contaminação, pois são em sua maioria lugares abertos e próximos de vias com forte tráfego de automóveis. Um dos maiores problemas está na estocagem do produto. Segundo ele, os comerciantes não possuem um sistema de operacionalização do estoque que tenha em vista a preservação da qualidade, validade e mistura dos lotes.
A mídia exerce grande impacto na credibilidade das plantas medicinais e influencia seu consumo de maneira direta. A maioria dos comerciantes que participaram do projeto afirma que as vendas de determinada droga aumentam quando sai uma grande reportagem na mídia sobre os seus efeitos benéficos. ”Mesmo quando a Ana Maria Braga fala que uma planta é boa pra isso ou aquilo, aí todo mundo quer comprar”, revela Julino.
Para Julino, tanto a medicina tradicional quanto as drogas de origem vegetal possuem vantagens próprias. “A resposta é o diálogo. Quando você pensa no ser humano e quer promover saúde, você tem que pensar no diálogo”, afirma. Ele defende a aplicação de cursos aos comerciantes urbanos de drogas vegetais, para que passem a ter maiores conhecimento e cuidados no trato com os produtos. Segundo ele, deveria haver maiores incentivos do governo para o desenvolvimento desse tipo de drogas, de forma que os fitoterápicos passassem a ser oferecidos de maneira mais organizada e segura.