São Paulo (AUN - USP) - Portadores de diabetes mellitus tipo 1 têm nova possibilidade de tratamento, com técnica de isolamento e transplante de estruturas produtoras de insulina pesquisada pelo Instituto de Química da USP (IQ-USP). O estudo, liderado pela professora Mari Cleide Sogayar e inédito no Brasil, consiste na separação de ilhotas pancreáticas do órgão de um doador e sua inserção no fígado do receptor diabético.
Em dezembro do ano passado, foi realizado no hospital Albert Einstein o primeiro transplante do gênero no país. O procedimento já fora realizado por um grupo de pesquisadores canadenses, chegando a um índice de sucesso de 85% após um ano de intervenção.
O diabetes tipo 1 é causado pela destruição de células beta encontradas nas ilhotas, o que leva à deficiência na produção de insulina Seu tratamento é a insulinoterapia. O portador da deficiência apresenta uma variação muito alta de nível de glicose no sangue, sendo-lhe necessário, portanto, um constante controle para se evitarem crises de hipoglicemia.
Uma das possibilidades para diabéticos tipo 1 em estado crítico é o transplante de pâncreas. No entanto, “essa operação é altamente invasiva, demora entre oito e nove horas e tem um tempo de recuperação longo”, diz Mari.
O transplante das ilhotas pancreáticas seria uma alternativa – embora representem entre 1 a 2% da massa do pâncreas, elas são responsáveis por toda sua porção endócrina, e, portanto, por toda a produção de insulina. A intervenção cirúrgica é simples e demora de 30 a 40 minutos. A escolha do fígado como órgão receptor deu-se por sua capacidade de regenerar-se e por ser o órgão que mais consome insulina.
Apesar do transplante proporcionar uma vida mais normal, ele apresenta problemas colaterais. Isso se dá porque as estruturas transplantadas não são de organismos imunologicamente idênticos. Para evitar que o sistema imunológico ataque as ilhotas, é necessário que se usem drogas imunossupressoras, deixando o organismo, por exemplo, mais suscetível a infecções.
Um dos problemas que se enfrentam para fazer o transplante de ilhotas é a escassez de doadores. Soma-se a isso um rendimento entre 30 e 40% apresentado em seu complexo processo de purificação. Do outro lado, há uma quantidade muito grande de pessoas precisando do transplante. Isso deu uma maior relevância ao estudo da proliferação de ilhotas fora de organismos vivos.
Constatou-se que, em cultura, tendem a se formar estruturas parecidas com ilhotas e que produzem insulina. Combinações de prolactina e lanilina ajudariam na sobrevivência e funcionamento dessas ilhotas em cultura. “Isso é a base da proposta que fizemos para um segundo projeto da Fapesp, que é o microencapsulamento de ilhotas pancreáticas (...). A idéia é mimetizar na cápsula aquilo que facilitaria a sobrevivência e a proliferação de ilhotas”, diz a pesquisadora.
Outro lado da pesquisa aborda a ação de toxinas do escorpião na proliferação de ilhotas. Essas toxinas causam um crescimento in vivo anômalo (hiperplasia) das ilhotas pancreáticas, num índice igual ao do período fetal. Isso é marcante, dado que no pâncreas adulto sua proliferação é praticamente nula.