ISSN 2359-5191

27/06/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 09 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Compostos de clorofila podem não trazer benefícios para seres humanos

São Paulo (AUN - USP) - Com a promessa de curar um conjunto variado de males, que inclui desde anemia até mau-hálito, compostos à base de clorofila podem ser encontrados em muitas farmácias da cidade. Contudo, os supostos efeitos positivos da substância que garante coloração verde às plantas ainda não foram comprovados nos seres humanos.

Apoiada em estudos já publicados sobre implicações da ingestão de clorofila pelo homem, um grupo de estudos coordenado pela pesquisadora Úrsula M. Lanfer Marquez desenvolve, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, trabalhos com a clorofila da soja. A pesquisa busca decifrar os mecanismos químicos e bioquímicos da degradação da molécula e analisar os seus subprodutos. “Desde 1980, se acredita na correlação entre a saúde das pessoas e a dieta”, explica a professora. “Mas como existem muitas substâncias no vegetal, fica difícil saber a quais delas devem ser atribuídas as conseqüências benéficas para os seres humanos”.

Tal dificuldade é devida também a outros fatores, como à instabilidade química da molécula, que faz com que seja difícil isolá-la e purificá-la. Além disto, falta conhecimento sobre quem é responsável por esses efeitos: se a própria clorofila ou algum dos produtos de sua degradação. Uma outra questão problemática está em descobrir o local onde a molécula é degradada. O processo pode ocorrer tanto no vegetal, pela ação de enzimas (durante o seu armazenamento ou ao se cortar ou cozer as verduras), quanto no trato gastro-intestinal, pela ação do pH ácido do estômago.

Como surgiu então a crença de que ingerir clorofila faz bem ao homem? Para a pesquisadora, pelos fatos de que nos vegetais a molécula é encontrada em concentrações elevadas (em cada 100g de espinafre, há até 150 mg de clorofila) e de que a ingestão regular de verduras faz bem a saúde, os consumidores associariam a clorofila aos benefícios trazidos pelo alimento. “Já muitas das outras substâncias com efeitos biológicos benéficos estão presentes em níveis baixos nos vegetais, fortalecendo a teoria de que a clorofila é benéfica”.

Pesquisas mostrando algumas implicações da substância já foram publicadas. Testes in vitro apontaram que, na ausência de luz, a clorofila e seus derivados atuam como agentes antioxidantes. Entretanto, quando expostas à luz, as moléculas podem causar o efeito antagônico, acelerando o processo de oxidação. De acordo com Úrsula, é por isto que os óleos vegetais devem passar por um refino, que elimina a clorofila do produto, antes de irem para as prateleiras dos mercados.

Outro efeito benéfico da substância também comprovado é a sua propriedade antimutagênica. Quando ingerida, a molécula de clorofila (ou os produtos de sua degradação) se encontra com substâncias mutagênicas ou carcinogências, presentes em outros alimentos. Elas se associam no trato gastro-intestinal, formando um complexo, que é eliminado do organismo. Portanto, a clorofila, em princípio, impediria a absorção, pelo sistema digestivo, de substâncias que ajudariam no desencadeamento do processo da carcinogênese. “Mas os próprios autores admitem que esse estudo ainda necessita de comprovação sobre a real eficácia in vivo”, diz a pesquisadora. Isto porque o efeito antimutagênico só ocorre quando as duas substâncias são ingeridas ao mesmo tempo. “Teríamos que comer um maço de espinafre junto com o amendoim (que pode carregar uma substância carcinogênica, a aflatoxina)”, exemplifica.

Ainda assim, dentro do conjunto restrito de pesquisas envolvendo as conseqüências da ingestão de clorofila para o homem, a professora considera que essa comprovação é a mais relevante dentre as obtidas até o momento. Mas como não há provas de que a substância tem a capacidade de chegar até a corrente sangüínea, Úrsula diz que “inferir sobre a importância da clorofila na nossa alimentação ainda é complicado”. E conclui: “Faltam estudos na área”. Pelo menos por enquanto, nenhum médico irá receitar compostos de clorofila a pacientes hipertensos ou com dores no corpo.

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