ISSN 2359-5191

22/11/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 104 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Laboratório da USP realiza ensaios de toxidade para descrever comportamento de fungos
Apesar de recentes descobertas, emissão de luz verde por algumas espécies de Basidiomicetos ainda precisa ser explicada dos pontos de vista químico, biológico e evolutivo

São Paulo (AUN - USP) - Das cerca de 85 mil espécies descritas de fungos no mundo, nove mil pertencem à classe dos Basidiomicetos (produtores de esporos em forma de bastão), dos quais, apenas cerca de 0,8% emite luz própria. Apesar do pequeno número percentual, encontrá-los não é tarefa tão difícil assim. “É mais fácil do que se imagina”, afirma o pesquisador Cassius Stevani, professor do Departamento de Química Fundamental, do Instituto de Química da USP, e coordenador do Laboratório de Bioluminescência de Fungos, “podendo ser encontrados em locais de mata densa e úmida”. Mas se a tarefa de procurar fungos emissores de luz exige apenas que se faça uma busca quando se está escuro, descobrir as funções, os porquês e as substâncias envolvidas nessa emissão têm se mostrado tarefa um pouco mais complicada.

O que esse laboratório tenta, no momento, é descobrir quais as substâncias e os mecanismos envolvidos nessa atividade e quais suas possíveis funções bioquímicas para esse organismo. Sabe-se que estão envolvidas na atividade bioluminescente desses fungos duas enzimas: a redutase e a luciferase, como comprovou o pesquisador Anderson Garbuglio de Oliveira. No entanto, ainda não foi possível isolá-las nesses fungos, e, por isso, ainda não se sabe a sequência de genes envolvidos na sua produção. Nesse aspecto, Stevani conta com a participação de Patrícia Sartorelli, professora adjunta da Unifesp, no campus de Diadema, que trabalha no isolamento de luciferina, substância de papel antioxidante cuja produção varia conforme a atuação de luciferase.

Um dos avanços que a pesquisa do professor Stevani alcançou foi realizar experimentações que pudessem envolver a atividade de bioluminescência (que nesses fungos se apresenta de modo constante), sua atividade respiratória e sua defesa antioxidante. Com a ajuda da doutoranda Olívia Domingues, têm-se realizado nesse laboratório ensaios de toxidade ambiental, na tentativa de descobrir qual seria a função bioquímica dessa luz.

Usando-se íons de onze metais (cádmio, cobre, cobalto, níquel, manganês, zinco, magnésio, lítio, sódio, potássio e cálcio) em meios onde estão presentes esses fungos, notou-se que, a fim de reduzir o stress causado pela concentração desses íons, o fungo prefere causar a redução disso que lhe causa stress, inibindo o funcionamento de seu sistema de bioluminescência. Ou seja, ele deixa de gastar sua energia na produção de luz para realizar a redução química desses metais e sua respiração. Para isso, Stevani conta também com a colaboração de Erick Leite Bastos, professor adjunto da Universidade Federal do ABC em Santo André (SP). Sua contribuição é quanto à predição de toxidade: tentar relacionar os parâmetros matemáticos tabelados com a previsão de toxidade desses metais antes mesmo de terem sido medidos.

Para Stevani, “saber se uma substância é tóxica ao fungo é de interesse ambiental”, uma vez que fungos são utilizados, por causa de sua tolerância, para biorremediar solos, como por exemplo, “áreas onde antes existiam minas, fundições e lodaçais”. Mas essa tolerância dos fungos, que, se por um lado permite sua associação simbionte com outros seres vivos como plantas, conforme os estudos do pesquisador Luiz Fernando Mendes, por outro, torna o fungo pouco sensível às alterações ambientais do meio.

Inicialmente, Marina Capelari, da Seção de Micologia e Liquenologia do Instituto de Botânica do estado de São Paulo, e Dennis Desjardin, professor da San Francisco State University, tinham os dados quanto a esses fungos, mas foi através das expedições realizadas por Stevani e por esses profissionais que foi possível descobrir doze espécies de fungos bioluminescentes no Brasil e um novo gênero, o Gerronema.

Apesar dos aspectos químicos a serem respondidos, compreender a função da luz emitida por esses fungos exige ainda explicações biológicas e evolutivas. As mais prováveis seriam, de acordo com Stevani, “atrair carnívoros para dispersá-los e repelir insetos fotofóbicos”. O que fica ainda por responder é por que mesmo as partes não visíveis desses fungos, ou seja, partes que não atrairiam agentes dispersores de esporos, gastam energia para emitir essa luz se isso é em vão. O que o Laboratório de Bioluminescência de Fungos espera é, através de suas descobertas, sanar essas outras tantas dúvidas escondidas sob a luz desses fungos.

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