ISSN 2359-5191

25/11/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 107 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Palestra para pós-graduandos da USP aborda avanços na síntese de peptídeos
Pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Química de Peptídeos do IQ – USP com o uso de microondas surgem como “alternativa verde” para síntese de novos compostos

São Paulo (AUN - USP) - Peptídeos são biomoléculas que, quando compostas de séries de mais de cem aminoácidos, formam as proteínas. Suas aplicações são inúmeras, mas sintetizar peptídeos que não os encontrados na natureza tem sido uma busca da Ciência. Nessa linha trabalha a professora Maria Terêsa de Miranda, responsável pelo Laboratório de Química de Peptídeos do IQ – USP, que, na palestra “Peptídeos: alvos de pesquisa na interface entre a Química e a Bioquímica”, ministrada recentemente, divulgou o avanço de suas pesquisas com o uso de irradiação de microondas.

As pesquisas desse laboratório seguem a linha das descobertas em síntese peptídica em fase sólida do professor Bruce Merrifield, laureado pelo Prêmio Nobel da Química de 1984 pelos resultados obtidos nessa área. Merrifield realizava ligações entre os peptídeos na sequência que desejasse, utilizando-se de uma resina, que durante a reação, servia de “linker”. “Só que nem tudo eram flores”, destaca Maria Terêsa, devido aos altos custos do procedimento e à geração de grande quantidade de resíduos.

“A síntese em fase sólida gera rendimento muito baixo”, afirma a professora. Por isso, buscou-se um novo manejo do procedimento que fosse menos agressivo ao meio ambiente, funcionasse como estratégia mais rápida que a vigente e que, acima de tudo, prezasse pela qualidade. “E é essa a nossa preocupação: com a parte química da coisa”. Inicialmente, tentou-se utilizar aminoácidos diferenciados e isoladores de ligações, mas os altos custos desincentivaram as pesquisas.

Foi a partir daí que o laboratório passou a utilizar irradiação de microondas. Isso otimizou o procedimento, mas exigiu que as medições de temperatura fossem feitas com fibra ótica, para que os compostos não sofressem desnaturação de sua estrutura e, com isso, perdesse sua função. Atingiu-se como ótima a temperatura de 60° Celsius, na qual as enzimas utilizadas como catalisadores trabalhavam em temperatura ideal, podiam ser reaproveitadas inúmeras vezes, e também na qual eram mínimas as ocorrências de ligações indesejadas. “Mostrou-se aí que as microondas minimizaram a agregação (indesejada) e o procedimento foi mais rápido e mais verde”, afirma a pesquisadora.

Como ainda restavam juntos aos produtos desejados alguns compostos residuais, a professora contou com a colaboração da colega do Departamento de Química Fundamental do IQ, a professora Liane Marcia Rossi, cujas pesquisas com nanopartículas supermagnéticas podiam ser aplicadas como nanocatalisadores na seleção entre os produtos desejados e os resíduos. Por isso, Maria Terêsa declara “A Química e a Bioquímica coexistem em nosso laboratório”.

Os estudos do Laboratório de Química de Peptídeos têm motivações além de científicas. Peptídeos possuem ações biológicas, antibióticas, adoçantes, hormonais e cosméticas, sendo encontrados em herbicidas naturais, carnosinas (produto usado para o bem estar de indivíduos durante seu envelhecimento), aspartame (adoçante natural) e em suportes para o cultivo de células. Como as pesquisas são amplas e, a fim de atrair a atenção dos estudantes interessados, a professora conclui: “As idéias vão aparecendo e é necessário que as pessoas dispostas a trabalhar também apareçam”.

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