São Paulo (AUN - USP) -Um dos dilemas ambientais que o Brasil enfrenta é quanto à destinação para o óleo de cozinha usado. No país, são consumidos anualmente cerca de 4 bilhões de litros de óleo, dos quais metade é descartada incorretamente. Para sanar esse problema, surgiram programas como o Bióleo, que foi apresentado por Teodora Tavares em palestra no Instituto de Geociências (IGc) da USP.
Hoje, 70% do óleo descartado vem das residências. Sabe-se que cada litro de óleo contamina 20 mil litros de água. Uma vez na água, o óleo impede a oxigenação, podendo eliminar a vida aquática, além de prejudicar o tratamento da água nas represas. Mas a água não é o único meio afetado pela contaminação por óleo. O solo perde a permeabilidade, a vegetação é destruída e esses dois fatores contribuem com enchentes. Além disso, o óleo descartado incorretamente contribui com a eliminação de gás metano e com o efeito-estufa.
O óleo descartado também é responsável por 16% do custo de manutenção das redes de esgoto, que ficam obstruídas, uma vez que o óleo acumulado nas paredes dos dutos é um agregador de materiais.
Para combater esses danos, o programa Bióleo trabalha coletando óleo de cozinha residual, que será vendido às empresas e transformado em biodiesel, aproveitando-se da lei que estabeleceu o mínimo de 5% de biodiesel na composição do combustível. Anualmente, há uma demanda de 2,2 bilhões de litros de biodiesel para serem acrescentados ao combustível fóssil.
O programa buscou auxílio governamental. O Instituto PNBE possui o projeto Brasil 2022 – do Brasil que temos para o Brasil que queremos, que abrange cinco bases. Uma delas é a “ecologicamente sustentável”, que deu apoio ao Bióleo.
Teodora refuta a solução que algumas entidades dão para o óleo residual: a fabricação de sabão caseiro. Ela alerta para os riscos dessa prática, como problemas na pele, que podem ocorrer caso não sejam utilizados os equipamentos de proteção adequados. O sabão feito a frio não elimina as bactérias do óleo usado e pode causar contaminações. Já o feito a quente, elimina fumaça que pode causar doenças respiratórias. Além disso, a produção de sabão não resolve o problema da contaminação da água.
O Bióleo trabalha com instituições que se dispõem a implantar o programa. Nessas instituições, são depositados vasilhames de armazenamento e é feita a divulgação, para que as pessoas tragam o óleo. Teodora explica que programa dá destinação adequada também para os recipientes e até mesmo para as sacolinhas nas quais as pessoas transportam o óleo.
O programa oferece benefícios para as instituições. Por exemplo, no caso de bares, restaurantes e lanchonetes, é concedida uma certificação que pode funcionar como pré-requisito para a ISO 26.000 (Norma Internacional de Responsabilidade Social). Já as comunidades carentes, têm a possibilidade de aumentar sua renda. É por isso que o programa recebe apoio da Secretaria de Desenvolvimento Social de São Paulo. E, nas escolas, são realizados trabalhos com alunos e professores.
Atualmente, o programa está presente em mais de 70 bairros da cidade de São Paulo, em cinco cidades da Grande São Paulo e tem objetivo de atingir também o interior do estado e o Rio de Janeiro. Dentro da USP, o IGc tem planos de implantar a coleta de óleo.