São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP utiliza pele artificial para testar medicamentos contra o melanoma, tipo mais grave de câncer de pele. O projeto foi desenvolvido por alunos de Mestrado e Doutorado e coordenado pela professora Sylvia Stuchi Maria-Engler.
A pele artificial utilizada na pesquisa é constituída em laboratório (in vitro), a partir de bancos de células. Fragmentos epiteliais são doados por pacientes do Hospital Universitário submetidos a cirurgia plástica. Os pedaços são desorganizados e as células que constituem a pele retiradas e armazenadas em bancos congelados. Quando surge a necessidade de testar novos fármacos ou cosméticos, reorganiza-se as células in vitro. Apesar de ser um projeto pioneiro no Brasil, no exterior já são feitos trabalhos semelhantes.
O laboratório recebe moléculas do Brasil todo, que são analisadas in vitro. Define-se então a molécula considerada ideal para realização de testes na pele artificial. De acordo com Sylvia, essa “é uma importante ferramenta quando se trabalha com moléculas novas, porque existe pouca quantidade dessas moléculas disponível pra fazer os testes in vitro. Então a gente minimiza a utilização de cobaias.”
Embora tenha baixa incidência no Brasil, o melanoma possui elevada taxa de fatalidade. Apesar de apresentar chances altas de cura no início, se descoberto tardiamente, a sobrevida dos pacientes costuma ser baixa. Isso ocorre devido à alta resistência dos tumores aos quimioterápicos utilizados no tratamento.
Na progressão da doença, as metaloproteinase são enzimas importantes, que degradam as células e permitem a formação de novos tumores. Por isso, a pesquisa trabalha com a planta pariparoba, retirada da Mata Atlântica, que possui ação comprovada na inibição de metaloproteinase. A planta é utilizada popularmente no tratamento de feridas crônicas e de pele.
A partir do extrato bruto da pariparoba, ocorre a caracterização de cada um de seus componentes. Esse processo revelou a existência do nerolidilcatecol, elemento inibidor de metaloproteinase e que passa agora pela fase de caracterização. Ele também apresenta uma ação celular específica, capaz de induzir à morte células resistentes a tratamentos químicos, presentes no melanoma humano.
No Brasil, existe uma grande dificuldade no campo de produção de novos medicamentos. O principal objetivo do projeto é escolher moléculas nacionais com potencial para se tornar fármacos, auxiliando a produção brasileira de medicamentos.
“Cada trabalho gera uma nova pergunta e a gente passa a ter novos alunos, novos colaboradores pra tentar respondê-las. Então, nesse sentido, o conhecimento é contínuo”, conta Sylvia. A professora recebeu, pelo projeto, uma indicação ao prêmio Claudia, que promove iniciativas e conquistas femininas no Brasil.